sábado, 23 de fevereiro de 2013



24 de fevereiro de 2013 | N° 17353
PAULO SANT’ANA

Violência policial-militar

Uma arbitrariedade policial-militar atingiu minha família, às 19h10min da última quarta-feira. Minha mulher estava em companhia de seu sobrinho, trabalhador com 34 anos, nas imediações da Travessa Outeiro com Rua Volta da Cobra, no Partenon.

Preparava-se para entrar no seu carro quando de uma viatura da BM desceram três brigadianos em serviço, entre eles uma policial feminina. A policial feminina revistou detida e asperamente a bolsa da minha mulher. E o aparente chefe da patrulha, um PM loiro, ao ouvir as razões da minha mulher, que, por sinal, é negra, disse a ela “Tu tens é que te f...”, acrescentando “tu tinhas é que estar lavando louça”, num subjetivo rompante racista.

É bom lembrar que os três integrantes da patrulha já chegaram perante minha mulher de armas pesadas em punho. Minha mulher refere que eram metralhadoras, mas deviam ser fuzis.

A seguir, sem nenhum motivo, o policial loiro desferiu um chute violento na perna aleijada por cirurgia vascular do sobrinho da minha mulher.

Temos então no caso dois tipos de violência, o psicológico-moral que sofreu minha mulher e o de violência física no chute que sofreu o sobrinho dela.

Minha mulher chegou em casa aos prantos. Entrei em contato por telefone com o alto-comando da BM. Por sinal, fui atendido gentil e exemplarmente pelo coronel Silanus e pelo tenente-coronel Vasconcelos.

Foi então que pedi só uma coisa ao oficial Vasconcelos: que eu e minha mulher fôssemos levados até diante dos três policiais que inventaram a revista, que eu queria dizer, olhos nos olhos com o policial loiro, o seguinte: “Parem de cometer essas tropelias. Os senhores são servidores dos cidadãos e não seus algozes. Parem com essa violência nas revistas pessoais, imaginem o que vocês não fazem em ocorrências mais sérias. Parem!”.

O tenente-coronel Vasconcelos concordou que no dia seguinte eu e minha mulher fôssemos até a Ouvidoria da BM e que eu me defrontasse com o loiro agressor e minha mulher prestasse queixa.

Uma hora depois, o oficial Vasconcelos me disse que o canal superior a si tinha decidido que minha mulher poderia prestar a queixa, mas que eu não poderia ficar frente a frente com o policial agressor.

Foi quando eu, desanimado, agradeci por tudo e disse ao coronel que, se não podia olhar nos olhos do agressor da minha mulher e do sobrinho dela, então eu desistia de tudo, porque vai dar em nada mesmo.

Mais uma grave violência sofrida cotidianamente pela população vai restar impune. Eu podia, aqui por esta coluna, baixar a crítica em cima da Brigada Militar, assim em comoção como estou.

Mas não vou fazê-lo, eu seria injusto. É que a tarefa policial deriva de Deus, igual à tarefa da medicina. E essa tropelia que cometeram contra minha mulher é uma prova de que assim é a sorte das coisas divinas em mãos humanas.

Mas o secretário da Segurança Pública e o governador, se dignarem-se a tomar atenção por esse fato, haverão de por alguma forma atenuar a onda de violência arbitrária cometida por esses esbirros e beleguins contra a indefesa população.

Se assim agem contra uma dona de casa e seu sobrinho, pensem no que têm feito de violência a torto e a direito por aí, todos os dias. Todos os dias.

Cumpro reconhecer que os patrulheiros da BM são instruídos por seus superiores para se tornarem cordiais, polidos e educados quando das abordagens aos cidadãos nas ruas. E que uma parte deles obedece a essas instruções. Só a parte ruim desobedece.

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