24
de fevereiro de 2013 | N° 17353
PAULO
SANT’ANA
Violência
policial-militar
Uma
arbitrariedade policial-militar atingiu minha família, às 19h10min da última
quarta-feira. Minha mulher estava em companhia de seu sobrinho, trabalhador com
34 anos, nas imediações da Travessa Outeiro com Rua Volta da Cobra, no
Partenon.
Preparava-se
para entrar no seu carro quando de uma viatura da BM desceram três brigadianos
em serviço, entre eles uma policial feminina. A policial feminina revistou
detida e asperamente a bolsa da minha mulher. E o aparente chefe da patrulha,
um PM loiro, ao ouvir as razões da minha mulher, que, por sinal, é negra, disse
a ela “Tu tens é que te f...”, acrescentando “tu tinhas é que estar lavando
louça”, num subjetivo rompante racista.
É
bom lembrar que os três integrantes da patrulha já chegaram perante minha
mulher de armas pesadas em punho. Minha mulher refere que eram metralhadoras,
mas deviam ser fuzis.
A
seguir, sem nenhum motivo, o policial loiro desferiu um chute violento na perna
aleijada por cirurgia vascular do sobrinho da minha mulher.
Temos
então no caso dois tipos de violência, o psicológico-moral que sofreu minha
mulher e o de violência física no chute que sofreu o sobrinho dela.
Minha
mulher chegou em casa aos prantos. Entrei em contato por telefone com o alto-comando
da BM. Por sinal, fui atendido gentil e exemplarmente pelo coronel Silanus e
pelo tenente-coronel Vasconcelos.
Foi
então que pedi só uma coisa ao oficial Vasconcelos: que eu e minha mulher
fôssemos levados até diante dos três policiais que inventaram a revista, que eu
queria dizer, olhos nos olhos com o policial loiro, o seguinte: “Parem de
cometer essas tropelias. Os senhores são servidores dos cidadãos e não seus
algozes. Parem com essa violência nas revistas pessoais, imaginem o que vocês
não fazem em ocorrências mais sérias. Parem!”.
O
tenente-coronel Vasconcelos concordou que no dia seguinte eu e minha mulher
fôssemos até a Ouvidoria da BM e que eu me defrontasse com o loiro agressor e
minha mulher prestasse queixa.
Uma
hora depois, o oficial Vasconcelos me disse que o canal superior a si tinha
decidido que minha mulher poderia prestar a queixa, mas que eu não poderia
ficar frente a frente com o policial agressor.
Foi
quando eu, desanimado, agradeci por tudo e disse ao coronel que, se não podia
olhar nos olhos do agressor da minha mulher e do sobrinho dela, então eu
desistia de tudo, porque vai dar em nada mesmo.
Mais
uma grave violência sofrida cotidianamente pela população vai restar impune. Eu
podia, aqui por esta coluna, baixar a crítica em cima da Brigada Militar, assim
em comoção como estou.
Mas
não vou fazê-lo, eu seria injusto. É que a tarefa policial deriva de Deus,
igual à tarefa da medicina. E essa tropelia que cometeram contra minha mulher é
uma prova de que assim é a sorte das coisas divinas em mãos humanas.
Mas
o secretário da Segurança Pública e o governador, se dignarem-se a tomar
atenção por esse fato, haverão de por alguma forma atenuar a onda de violência
arbitrária cometida por esses esbirros e beleguins contra a indefesa população.
Se
assim agem contra uma dona de casa e seu sobrinho, pensem no que têm feito de
violência a torto e a direito por aí, todos os dias. Todos os dias.
Cumpro
reconhecer que os patrulheiros da BM são instruídos por seus superiores para se
tornarem cordiais, polidos e educados quando das abordagens aos cidadãos nas
ruas. E que uma parte deles obedece a essas instruções. Só a parte ruim
desobedece.
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