12 de fevereiro de 2013 | N° 17341
FABRÍCIO CARPINEJAR
A arte
de pôr as mãos no bolso
Sensualidade é elegância. Temos como parâmetro afrodisíaco a
mulher que usa vestido, decote, que mostra as virilhas e os seios. É a imagem
praiana, tropical, sestrosa. A clássica cena latina, da modelo voluptuosa,
transbordante, oferecida, rebolando sem parar e, claro, de bunda avantajada.
Não é isso que me interessa. Chupar os dedos e descruzar as
pernas tampouco paralisam meu olhar.
Também nunca fui fã da garota de Ipanema, ela não saiu da
infância do sexo.
A discrição é que me excita. A discrição que é selvagem. A
discrição é que oculta os poderes intuitivos. Um verdadeiro animal não se
entrega de primeira.
Nada mais elegante (e sexy) do que uma mulher com calça de
alfaiataria, de algodão, com corte apropriado e honesto.
É na calça que ela vai demonstrar toda sua cultura,
temperamento e domínio de lugar.
É na hora de colocar as mãos no bolso.
Mulher que sabe colocar as mãos no bolso me desconcerta e me
alucina.
Tem vocação de imperatriz. Não teme a masculinidade do
traje. Não é afetada, não precisa apelar para a roupa colada, não promove
nenhuma exibição gratuita das coxas.
A sobriedade é ainda um concurso insuperável de beleza. Ser
bonita de saia é fácil. Vá colocar uma calça e atrair a rapaziada para compreender
o que é empatia da pele.
Eu me apaixono na hora. Entrego o carro como entrada de
apartamento, largo a estrada pela varanda.
Além de manter o mistério, ela venceu o maior desafio da
aparência: pôr as mãos no bolso e não transpirar timidez, desconforto e
confusão.
O bolso representa um desafio de intimidade. Uma prova de
autenticidade.
É como preparar arroz. É simples, mas a maioria erra o
ponto.
Eu até hoje não tenho prática. Amontoo os dedos, não relaxo,
mexo as chaves, jogo um fla-flu com as moedas, coço o saco, fico tenso e
ridículo. Quem me olha jura que faço pose, beiço, chantagem ou – pior – que
estou apertado.
Mulheres que conseguem colocar belamente as mãos no bolso
são decididas, transam maravilhosamente, não têm vergonha do corpo e do amor.
Não serão fantoches do trabalho, ou dos clichês.
O bolso é uma luva, o bolso é uma bolsinha de festa, o bolso
é o avesso do mundo.
É previsível – não duvide – que elas vão terminar colocando
seu homem no bolso.
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