13 de fevereiro de 2013
| N° 17342
CINTIA MOSCOVICH
Numa Quarta-feira de Cinzas
Iniciado oficialmente o ano, é
hora de lembrar que há coisas que o dinheiro faz e coisas que o dinheiro não
faz. O dinheiro compra o Carnaval mas não ensina a folia, compra a gargalhada
mas não entrega o humor, compra a cor mas não a harmonia.
O dinheiro compra a alegria mas
não empresta a felicidade, compra o grito mas não faz a justiça, compra a joia
mas não assegura a elegância, compra a fala mas não prostitui a verdade. Compra
a guerra mas não negocia a paz, compra a casa mas não cultiva o jardim, compra
o relógio mas não adia o tempo, compra a comida mas não sacia a dúvida. O
dinheiro compra um filho mas não uma família, o ócio mas não a preguiça, um
casamento mas não a união. O dinheiro compra um corpo mas não o tesão, um amigo
mas não o abraço, uma companhia mas não o desejo.
O dinheiro paga os estudos mas
não te desperta a vocação, te compra um diploma mas não te mitiga a estupidez,
te compra o piano mas não te garante o talento. O dinheiro compra o médico mas
não te devolve a saúde, o vestido mas não o bom gosto, o batom mas nunca o
beijo.
O dinheiro pode te comprar o
suborno mas não te dá o direito, te compra um cachorro mas não te dá a
lealdade, te compra a miragem mas não te dá a fantasia. O dinheiro te compra a
música mas não o ouvido, o quadro mas não o encantamento, o livro mas não a
transcendência. O dinheiro te compra o talher mas não o costume, o importado
mas não o legítimo, o supérfluo mas nunca o essencial.
O dinheiro te arroga o direito
mas não concede a sentença, a viagem mas não a experiência, a pose mas não o
estofo. O dinheiro compra os brinquedos mas não a infância, compra a tesoura
mas não ensina o talho, o lazer mas não o descanso, a mochila mas não a
aventura, a bebida mas não o porre, o corpo mas não a mente, te compra o fogo mas
não a ardência. Ele te compra o pincel mas não a forma, a ilha mas não o oásis,
o algodão mas não a rede, o perfume mas não a ilusão.
O dinheiro te compra o amuleto
mas não a
sorte, a madeira mas não a seiva,
o cristal mas não a transparência, o ouro mas não o brilho, a concha mas não o
mar, a corda mas não o nó, a seda mas não o tato. O dinheiro te compra a casca
mas não o miolo.
O dinheiro te compra o punho mas
não o poder, a importância mas não o espírito, o advogado mas não a razão. O
dinheiro te compra o banquete mas não o traquejo, a posição mas não uma
história, um anel mas não um legado.
O dinheiro compra o momento mas
não a esperança, o barulho mas não a harmonia, o travesseiro mas não o sono, o
fetiche mas não o prazer. Te compra a instrução mas não o discernimento, te
compra o bruto mas não o doce, a semente mas não o sonho, o mando mas não o
respeito, o diamante mas não o requinte. O dinheiro te compra o nome mas não a
linhagem, o título mas não a herança, o verso mas não a poesia.
O dinheiro compra até um lugar na
Sapucaí. O que ele não compra é uma vaga no mundo.
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