sábado, 9 de fevereiro de 2013



10 de fevereiro de 2013 | N° 17339
QUASE PERFEITO | Fabrício Carpinejar

“O marido fugiu com minha irmã”

“Sou casada há 18 anos e tenho quatro filhos. Minha irmã mais velha é casada há 25 e tem três filhos. De uns tempos pra cá, notei que ela e meu marido estavam muito próximos. Ele trabalhava no restaurante dela, voltava pouco pra casa, praticamente abandonou a família. Desconfiei do caso, mas minhas amigas disseram que era loucura, que minha irmã jamais faria isso. Não aguentei e joguei verde com meu marido, disse que sabia tudo. Ele ficou desesperado, saiu de casa, os dois abandonaram as famílias e fugiram juntos. Não sei onde eles estão. O que eu faço? Um abraço, Liége”

Querida Liége,

Pode me chamar de moralista. Sou moralista. Hoje é um crime ter moral. Parece que é uma virtude não possuir valores e aceitar qualquer coisa.

Careço de capacidade para banalizar a intimidade. Surpreendo-me com a tristeza. Meu pessimismo é sempre inédito.

O que aconteceu com você, Liége, foi uma dupla covardia. Ele traiu pelas costas e ainda fugiu. Não honrou a palavra dentro e fora de casa. Tornou-se um impostor mais do que um mentiroso.

O que machuca é acabar sendo a última a desvendar a trama, é ser alvo de fofocas, é ser motivo de pena entre os parentes e os amigos. É pertencer a uma história secreta no bairro, e ficar vulnerável à maldade dos vizinhos. É pressentir a tragédia e suportar a alcunha de louca. É dar inúmeras chances para a confissão do caso, e ele não aproveitar nenhuma delas.

Se vai trair, conta antes, conta logo. Assume o desejo. Nomeia o desejo. Abraça o desejo. Explica que se apaixonou, não finge normalidade quando as evidências gritam o contrário.

Há uma tendência da infidelidade de deixar acontecer para depois decidir. É como se o infiel precisasse provar para optar. Ou se enredar tanto nas mentiras até ser descoberto.

Homem não decide, homem estraga sua vida para assim ser obrigado a mudar.

Não custava confessar a insegurança e a confusão emocional quando sentiu a atração. Seria trágico, mas contornável. Seria horrível, mas superável.

O que ele aprontou é exemplo da falta de exemplo num macho.

Não respeitou sua relação com a irmã.

Não respeitou dois casamentos longos.

Não respeitou os próprios filhos e os sobrinhos.

Não respeitou o ambiente profissional e misturou sexo com serviço.

Não respeitou o passado e o futuro ao recusar o dever da despedida.

Portanto, querida, não faça nada, tudo já está feito.

Lamento mesmo é a inveja monumental da irmã. Ela queria sua vida, mas nunca terá sua dignidade. 

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