10 de fevereiro de 2013
| N° 17339
QUASE PERFEITO | Fabrício
Carpinejar
“O marido fugiu com minha irmã”
“Sou casada há 18 anos e tenho
quatro filhos. Minha irmã mais velha é casada há 25 e tem três filhos. De uns
tempos pra cá, notei que ela e meu marido estavam muito próximos. Ele
trabalhava no restaurante dela, voltava pouco pra casa, praticamente abandonou
a família. Desconfiei do caso, mas minhas amigas disseram que era loucura, que
minha irmã jamais faria isso. Não aguentei e joguei verde com meu marido, disse
que sabia tudo. Ele ficou desesperado, saiu de casa, os dois abandonaram as
famílias e fugiram juntos. Não sei onde eles estão. O que eu faço? Um abraço,
Liége”
Querida Liége,
Pode me chamar de moralista. Sou
moralista. Hoje é um crime ter moral. Parece que é uma virtude não possuir
valores e aceitar qualquer coisa.
Careço de capacidade para
banalizar a intimidade. Surpreendo-me com a tristeza. Meu pessimismo é sempre
inédito.
O que aconteceu com você, Liége,
foi uma dupla covardia. Ele traiu pelas costas e ainda fugiu. Não honrou a
palavra dentro e fora de casa. Tornou-se um impostor mais do que um mentiroso.
O que machuca é acabar sendo a
última a desvendar a trama, é ser alvo de fofocas, é ser motivo de pena entre
os parentes e os amigos. É pertencer a uma história secreta no bairro, e ficar
vulnerável à maldade dos vizinhos. É pressentir a tragédia e suportar a alcunha
de louca. É dar inúmeras chances para a confissão do caso, e ele não aproveitar
nenhuma delas.
Se vai trair, conta antes, conta
logo. Assume o desejo. Nomeia o desejo. Abraça o desejo. Explica que se
apaixonou, não finge normalidade quando as evidências gritam o contrário.
Há uma tendência da infidelidade
de deixar acontecer para depois decidir. É como se o infiel precisasse provar
para optar. Ou se enredar tanto nas mentiras até ser descoberto.
Homem não decide, homem estraga
sua vida para assim ser obrigado a mudar.
Não custava confessar a
insegurança e a confusão emocional quando sentiu a atração. Seria trágico, mas
contornável. Seria horrível, mas superável.
O que ele aprontou é exemplo da
falta de exemplo num macho.
Não respeitou sua relação com a
irmã.
Não respeitou dois casamentos
longos.
Não respeitou os próprios filhos
e os sobrinhos.
Não respeitou o ambiente
profissional e misturou sexo com serviço.
Não respeitou o passado e o
futuro ao recusar o dever da despedida.
Portanto, querida, não faça nada,
tudo já está feito.
Lamento mesmo é a inveja
monumental da irmã. Ela queria sua vida, mas nunca terá sua dignidade.
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