domingo, 24 de fevereiro de 2013



Amor que se compra

Serviços de paquera atraem empresários, que ainda buscam modelos de negócios eficientes

Com a ajuda das redes sociais e da geolocalização, empresários estão tentando mudar a forma como as pessoas, muitas vezes de nichos específicos, encontram amor, sexo casual ou relacionamentos "de fachada" pela internet. Os desafios, entretanto, são atrair mulheres e achar modelos de negócio eficientes.

Em menos de um mês, o aplicativo Pegava Fácil, que permite que usuários do Facebook indiquem com quais amigos virtuais gostariam de "ficar" e avisa aos internautas quando o interesse é mútuo, atraiu 28 mil usuários, sendo 65% homens -mais de 2.000 potenciais casais foram formados no período.

O sistema é uma versão nacional mais comportada do aplicativo americano Bang with Friends (gíria em inglês para "faça sexo com amigos"). Josemando Sobral, 29, fundador da empresa 30ideas, responsável pelo aplicativo brasileiro, diz que algo tão "descarado" quanto o sistema americano não funcionaria no país. "Os brasileiros querem algo mais discreto. Um aplicativo para sexo não funcionaria bem, mas, sim, algo para a 'pegação'."

Sobral destaca que o objetivo é aumentar a base de usuários e faturar com campanhas patrocinadas. Mas, de acordo com Felipe Wasserman, professor do Centro de Inovação e Criatividade da ESPM, há modelos mais promissores.

"A oferta de serviços extras é que pode ser o diferencial para faturar com esse tipo de negócio", argumenta.

Ele diz que o desafio é atrair uma grande quantidade de usuários, para fazer com que o serviço se torne interessante, e tentar convencer uma parcela deles a pagar por certas ferramentas do sistema.

No caso do empresário Airton Gontow, 51, entre 8.500 internautas cadastrados em seu site, 1.700 aceitaram pagar R$ 37,90 por um pacote mensal para usar o serviço Coroa Metade.

O portal, lançado há dois meses, é voltado a mulheres a partir dos 40 anos e a homens a partir dos 45 anos.

"A proporção de assinantes foi menor do que eu imaginava. É que, no começo, o site parecia aquele barzinho lindo que acabou de ser aberto, mas estava sem mulher [frequentando], então as pessoas resolveram voltar depois."

Ele diz que teve a ideia de criar o serviço depois de conversas com amigos de sua faixa etária, que, mesmo sendo extrovertidos, tinham dificuldades para começar relacionamentos.

Uma das tendências dos negócios de relacionamento on-line é o uso da geolocalização, com aplicativos que usam o GPS de smartphones para fazer com que pessoas que estão próximas se encontrem. Um exemplo bem-sucedido desse tipo de aplicação, inclusive do ponto de vista do faturamento, é o Grindr, voltado ao público gay, que permite conversar com usuários que estão nas redondezas.

O sistema, lançado em 2009, tem 4,5 milhões de usuários -131,2 mil no Brasil (o oitavo país com mais cadastrados no aplicativo).

Cerca de 70% da receita do sistema vem da ferramenta paga, com mais recursos. O restante é produto da venda de publicidade, que também pode ser relacionada à localização do usuário.

"Queremos mostrar anúncios que sejam relevantes para as pessoas. Não faz sentido mostrar a propaganda de uma festa em Miami para alguém que está em São Paulo", diz Joel Simkhai, 36, presidente-executivo do Grindr.

ATENÇÃO FEMININA

Um levantamento feito neste ano pela empresa de pesquisas Flurry com 17 milhões de usuários desse tipo de ferramenta, inclusive no Brasil, mostrou que apenas 36% deles são mulheres.

Isso se reflete no volume de tempo gasto nesses aplicativos: enquanto a média para todos os públicos é de oito acessos por semana, com 21 segundos gastos em cada um, os gays fazem 22 acessos semanais e ficam 96 segundos, diz a empresa.

Para Mary Ellen Gordon, diretora da Flurry, esse fenômeno pode estar relacionado ao uso da geolocalização. "As mulheres podem se sentir menos confortáveis com isso por razões de segurança", afirma. "Isso é algo que os desenvolvedores podem resolver, dando [a elas] mais opções sobre quando relevar informações sobre onde estão."

Por causa desse receio, mesmo serviços mais tradicionais de paquera resistem em usar esse tipo de tecnologia em seus aplicativos móveis. "Elas querem ver fotos, visitar perfis de pessoas, mas mostrar a localização é algo que as deixa inseguras", diz Navin Ramachandran, presidente do Match.com para América Latina, que no Brasil opera como ParPerfeito.

E, se buscar um parceiro pela internet ou pelo celular não funcionar, também há empreendedores interessados em ajudar quem pretende fingir um relacionamento.

Em janeiro, a MSsites, de Mato Grosso do Sul, lançou o serviço Namoro Fake, que oferece aos homens a possibilidade de contratar uma "ficante" falsa para exibi-la em seu perfil no Facebook -pagando R$ 99 por mês, é possível escolher uma moça real que vai aparecer como namorada na rede social. A "companheira" fica com metade desse valor.

Por questão de segurança, o cliente não pode entrar em contato diretamente com a mulher. As mensagens são moderadas pela empresa.

De acordo com Flavio Estevam, 32, idealizador do sistema, há atualmente 2.000 meninas cadastradas para servirem de namorada falsa e também uma fila de espera de 2.000 rapazes interessados no sistema.

Ele diz que pretende lançar em junho a versão "namorado fake".

FELIPE MAIA

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