10 de fevereiro de 2013
| N° 17339
VERISSIMO - As aventuras da
família Brasil
Olegário
Não se via mais homem fantasiado
de mulher no Carnaval. Não tinha mais graça.
O nome do bloco é Os Safados, e
existe há 50 anos. Na sua formação inicial tinha 36 componentes, todos amigos,
que saíam vestidos de mulher.
Como haviam combinado jamais
aceitar gente nova no bloco, e como a vida é o que é, depois de 50 anos
sobravam apenas 13 do grupo original. Só 13 se não contassem, claro, o
Olegário, que ainda vivia, mas mal podia andar e morava numa clinica.
– Com 13 não dá.
– Dá é azar.
– Vamos convidar alguém pra sair
conosco. Pra completar 14.
– Nunca. Onde fica a nossa
tradição? Tem que ser do grupo original.
Só havia uma solução. Convencer o
Olegário a sair com o bloco. Foi uma comissão falar com ele, na clínica. Todos
o cumprimentaram com entusiasmo.
– E aí, Lelé? – Você parece
ótimo!
– Está até rosado!
Olegário sempre respondia da
mesma maneira.
– Que nada. Com um sopro eu me
vou.
Olegário nem quis ouvir a
proposta de sair com o bloco.
– Eu, desfilar numa cadeira de
rodas? Esqueçam.
Não adiantou insistirem. Não
adiantou lembrarem o passado e as tradições dos Safados. Nem como o Olegário
era sempre o mais animado do grupo, o que passava meses planejando a sua
fantasia.Mais ou menos justa, com seios falsos e decote ou sem decote...
– Pô, Lelé! – Esqueçam.
– Mas você está tão bem!
– Que nada. Com um sopro eu me
vou.
Decepcionado, o grupo se reuniu
para discutir o que fazer. Desfilar só com 13 mesmo. Ou não desfilar, pela
primeira vez em 50 anos. Já eram um anacronismo. Não se via mais homem
fantasiado de mulher no Carnaval. Não tinha mais graça. Se continuassem, seria
só pela tradição do bloco. Mas com 13?
Foi quando o Nestor teve uma
ideia.
– Eu resolvo isso.
Não foi fácil convencer sua
mulher.
– Mas Nestor, é o meu melhor
vestido. O do batizado da Amelinha!
– Eu sei. Mas é por uma boa
causa.
Voltaram à clinica do Olegário,
levando o vestido. O Nestor não disse nada, só estendeu o vestido preto
cravejado com brilhantes no colo do Olegário, cujo rosto se iluminou.
Depois, a única coisa que o
Olegário disse foi:
– Onde nós vamos nos reunir?
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