18
de fevereiro de 2013 | N° 17347
KLEDIR
RAMIL
A tuna do
Klebér
Há
mais ou menos 40 anos, Klebér, meu pai, trouxe do Taim uma tuna exótica e
plantou em um dos canteiros de nossa casa, na Rua Dr. Amarante, em Pelotas.
Tempos depois, como ele e Dalvinha estavam de mudança para um apartamento,
carregou aquele cactus enrugado e replantou na frente do edifício M. A. Ramil,
onde o fenômeno foi crescendo de forma assustadora e hoje já atinge três
andares.
A
tuna do Klebér é uma planta estranha, que evoluiu de maneira desordenada e
ameaçadora, como se fosse um desses bichos alienígenas que aparecem no cinema.
É um ser esquisito, um sobrevivente da obscura fronteira entre os reinos
vegetal e animal. E mais, vem de uma região suspeita, onde o governo inclusive
já estabeleceu uma Reserva Ecológica para observar a natureza e preservar
animais da extinção, como a capivara, o maçanico e o ratão do banhado. Isso sem
falar dos moradores da Praia do Hermenegildo, que estão sendo engolidos pelo
mar.
Voltando
à tuna. Seguindo a tradição da família de espalhar pelo mundo o tal espécime –
iniciativa que já levou mudas para Porto Alegre, Barcelona, Remanso e Balneário
Santo Antônio –, um braço do excêntrico cactus foi trazido por mim e plantado
no município do Rio de Janeiro, mais precisamente no Jardim Dona Mocinha, de
minha propriedade.
A
viagem foi tranquila, sem maiores sobressaltos, a não ser no momento em que o
bicho, quer dizer, a planta passou pelo raio X do aeroporto e teve uma
manifestação de desconforto. Na dúvida, o pessoal da segurança chamou o agente
sanitário que, sem saber como classificar aquilo, deu de ombros e permitiu o
embarque. Portanto, que fique aqui registrado: entrei no espaço aéreo
brasileiro e no Estado do Rio de Janeiro, com a devida autorização do Governo
Federal, através de seus órgãos competentes.
Espero
não ter surpresas por aqui. O histórico das operações anteriores é o melhor
possível, ou seja, a coisa cresce, mas não acorda. Não houve até hoje nenhum
relato de violência envolvendo a tuna do Klebér. Pelo contrário, até mesmo
manifestações de deslumbramento com suas flores sazonais têm sido registradas.
Mas, enfim, nunca se sabe.
Sinceramente,
minha única preocupação é que aconteça alguma mutação genética causada pelo
contato desse corpo alienígena de baixa temperatura com o clima tropical.
Confesso que não sei o que pode vir por aí, eu não entendo nada de botânica. Ou
será biologia?
Vou
ficar quieto, observando. Se o bicho acordar, eu aviso.
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