27
de fevereiro de 2013 | N° 17356
UMA
RARA OCASIÃO
Vivendo a despedida de um
papa
Enquanto
outros pontífices saíram da Santa Sé apenas após deixar a vida, Bento XVI terá
a oportunidade, hoje, de dar adeus
Despedida.
Essa é a palavra que intriga católicos, jornalistas, padres, cardeais, fiéis e
infiéis. Por quê? Porque papa não se despede.
–
Papa apenas morre – disse ontem um padre brasileiro, em Roma.
Ou,
no máximo, sofre um atentado, agoniza em público e... morre. Como João Paulo
II. Mas não, papa não se despede.
É
essa situação inusitada – a despedida de um papa vivo – que Roma e o mundo
viverão hoje, a partir das 10h (6h em Brasília). Quando o pastor de branco,
ungido para ser o 265º sucessor de Pedro, aparecer na praça do Vaticano, esse
sopro de inquietação vai cortar, com o vento do inverno romano, centenas de
milhares de pessoas ao longo da Via della Conciliazione. É uma inquietação
travestida de espanto. Surpresa como a que tomou até o arcebispo emérito de
Salvador, dom Geraldo Majella Agnelo, um dos cardeais que elegerão o sucessor
de Bento XVI.
– O
Papa está que não se aguenta fisicamente – confidenciou ontem, em entrevista a
ZH, em seus aposentos no Colégio Pio-brasileiro, em Roma.
Na
versão oficial, o Sumo Pontífice está o cansado – o peso dos 85 anos, a
hipertensão, o marca-passo.
–
Mas, da cruz, não se desce – alertou, com veemência, dias atrás, o cardeal
polonês Stanislaw Dziwisz, secretário particular de João Paulo II.
Se o
seu antecessor padeceu na cruz até o último suspiro, por que Joseph Raztinger
descerá dela? Seriam motivos os escândalos que transformaram pastores de Cristo
em lobos capazes de abusar de crianças? Ou a corrupção nas entranhas do clero?
São perguntas que vão pairar nas mentes das 200 mil pessoas que deverão se
despedir, na Praça de São Pedro, hoje, pela primeira vez em 598 anos, de seu
papa.
O
último que desceu da cruz foi Gregório XII, no século 15, para encerrar o cisma
do Ocidente, quando a Igreja teve dois papas. Por iniciativa própria, livre de
pressões, o mais recente foi Celestino V, em dezembro de 1294.
Desde
que foi eleito, em 2005, Ratzinger se colocou como “um humilde operário da
vinha do senhor”. Não foi peregrino como o antecessor. Fechou-se na Cúria
Romana, acusam alguns. Mais cerebral do que espetaculoso.
O
fato é que Bento XVI abre um precedente que põe em xeque o futuro da Igreja em
questões como a infalibilidade do papa e até a própria sucessão .
RODRIGO
LOPES | ENVIADO ESPECIAL/CIDADE DO VATICANO
Próximos
passos
A um
dia da renúncia, o Papa se prepara para se retirar em oração e estudos. Será
“papa emérito”. Leia o que virá agora:
-
Após duas semanas, o Vaticano indicou ontem o próximo título de Joseph
Ratzinger: “Sua Santidade Bento XVI, Papa Emérito”.
- O
Papa se prepara para a audiência-geral de hoje, seu último encontro com os
fiéis. Também organizará seus papéis nos cômodos que irá deixar. Vai separar os
documentos sobre o papado dos pessoais.
-
Para a última audiência, 50 mil ingressos foram reservados, sem mencionar a
multidão na Praça São Pedro.
-
Ratzinger fará um passeio mais longo que o habitual no papamóvel.
-
Seu secretário, Georg Gänswein, lerá mensagens de todo o mundo.
- Em
seguida, haverá audiência na Sala Clementina para pessoas como o presidente
eslovaco Ivan Gasparovic.
- O
Papa concluirá suas tarefas amanhã às 19h locais (16h de Brasília).
-
Bento XVI, após a renúncia, vestirá uma batina branca papal diferente da
utilizada pelos papas. Não usará sapatos vermelhos, mas marrons.
- Na
manhã seguinte, o decano do Colégio de Cardeais, Angelo Sodano, fará discurso
de despedida, e cada cardeal se despedirá separadamente.
- No
mesmo dia, Sodano enviará convites aos cardeais para as “congregações” prévias
ao conclave. Devem começar depois de segunda-feira.
- O
Papa irá para o heliporto do Vaticano às 16h. Viajará a Castel Gandolfo, 25
quilômetros ao sul de Roma, residência de verão do Papa, onde passará dois
meses, antes de ir viver em um mosteiro no Monte do Vaticano.
-
Chegará à residência de verão e, da varanda, saudará os fiéis: será sua última
aparição como chefe da Igreja.
- Às
20h, a Guarda Suíça encerrará o serviço reservado ao Papa. A polícia fará a
segurança do Papa Emérito.
- O
conclave será iniciado a qualquer momento, antes do dia 15 de março.
- O
novo papa será escolhido até a Páscoa, em 31 de março.
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