terça-feira, 19 de fevereiro de 2013



19 de fevereiro de 2013 | N° 17348
PAULO SANT’ANA

O pessimismo

Quero falar hoje sobre o pessimismo, matéria em que sou craque pelo protagonismo.

O pessimista nunca tem esperança e mesmo que alguma coisa de bom aconteça com ele parece não acreditar.

Quando acontece alguma coisa de ruim com o pessimista, isso estava dentro de suas previsões.

Eu, um dia, dei uma conferência para psiquiatras e psicanalistas da Capital e expliquei que está errada a Organização Mundial da Saúde em não catalogar como doença mental o pessimismo: ele é a mais grave das doenças mentais.

A diferença fundamental entre o pessimismo e a depressão é que a última é eventual, pode ser curada, enquanto o pessimismo é permanente e não tem cura, morre com o pessimista.

Ninguém nunca viu, por exemplo, alguém tomar um comprimido contra o pessimismo.

O pessimista tem em conta um dado biográfico que apoia a origem da sua doença: ele já está cansado de apanhar da vida.

Por outro lado, existem os otimistas que também apanham da vida, mas, se ainda assim são otimistas, é porque gostam de apanhar.

O pessimismo é o câncer da alma. O pessimista não tem nenhuma chance de ser feliz, ele estraga seus momentos eventualmente felizes com a permanente espera do pior.

Nunca pergunte ao pessimista o que todas as pessoas se perguntam quando se encontram: “Como é, tudo bem?”.

Se o pessimista responde que está tudo bem, está mentindo.

O pessimista, quando é criança, não espera se tornar adulto. Quando o pessimista se torna jovem, começa a sentir os medos de vir a se tornar velho. E, quando finalmente o pessimista se torna velho, ele não pensa em outra coisa que não seja a morte.

A velhice, por incrível que pareça, contém algumas vantagens. Mas para quem não é pessimista. Quem é pessimista encara a velhice como a pior de todas as doenças.

O pessimista nunca triunfa porque, acaso ele venha a triunfar, tem certeza de que em seguida sobrevirão as desgraças.

E, quando as desgraças lhe sobrevêm, por um instante o pessimista curte um único triunfo: o de que tinha certeza de que elas sobreviriam e ninguém acreditou nele.

Não ganhar nunca na Mega Sena, para o pessimista, é natural. Para o otimista, não ganhar na Mega Sena significa que “ainda” não ganhou na Mega Sena, mas fatalmente chegará o seu dia.

O otimista casa-se sonhando com filhos e netos. O pessimista casa-se com um pé atrás e pensa que, se formar família, isso só lhe acarretará sérias complicações.

Quando se separa, o otimista vê isso como solução. Já o pessimista, quando se separa, sente no fundo que está cometendo um erro e o melhor seria que não tivesse se separado.

O pessimismo é a mais séria doença mental, e não há maior atraso na vida do que ter nascido com ela.

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