segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013



25 de fevereiro de 2013 | N° 17354
L. F. VERISSIMO

Brigadeiros

Cena: festa de aniversário de criança. Dois pais lado a lado.

– Você é o pai da...

– Da Laura. Você?

– Do Miguel. Aquele ali com a espada, batendo na... Miguel! Não se bate assim nas pessoas. Pede desculpa!

– Nós não nos vimos no...?

– No aniversário da Luiza.

– Certo. Estou me lembrando. Bolo de chocolate com amêndoas.

– Isso. E sorvete de creme.

– Sou eu que sempre trago a Laurinha nos aniversários.

– Sua mulher já desistiu...

– Não. É que eu gosto.

– Sabe que eu também?

– São um inferno, claro. É preciso ter paciência. Mas tem seu lado bom.

– Exatamente. Eu... Miguel! Me dá aqui essa espada! Você ainda vai quebrar alguma coisa!

– Eu sou tarado por brigadeiro de aniversário.

– Eu também! Brigadeiro e guaraná morno, tem coisa melhor?

– Notei que você pega dois brigadeiros cada vez que passa a bandeja mas não come. Põe de lado.

– Para comer depois dos cachorrinhos-quentes. De tanto vir a festas de aniversário com o Miguel, desenvolvi uma técnica. Primeiro como os cachorrinhos-quentes...

– Ou as empadinhas.

– Ou as empadinhas, ou os croquetes, e depois os brigadeiros.

Primeiro o salgado, depois o doce.

– O problema é que essas festas geralmente são desorganizadas. Servem os doces antes dos salgados. Não há nenhum critério. As crianças não ligam. A Laurinha não parou de comer brigadeiro desde que chegou. Ela é aquela ali, com o vestido marrom. Era branco quando ela saiu de casa, agora é marrom.

– Outra coisa. Só servem o bolo depois de cantarem o “parabéns a você” e assoprarem as velinhas.

– E nós aqui, namorando o bolo de longe. Do que você acha que esse é?

– Meu palpite é morangos com nata batida.

– Mmmmm...

– Mas vamos ter que esperar.

– Paciência...

– Olha, acho que estão vindo as empadinhas. E croquetes!

– Até que enfim...

– Miguel, desce daí!

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