25
de fevereiro de 2013 | N° 17354
DAVID
COIMBRA
Coerência e
autoridade
O
Grêmio teve medo de perder com os titulares o Gre-Nal decisivo de Caxias do
Sul. Perdeu com os reservas. Os ingressos estavam caros, entre R$ 70 e R$ 100.
Resultado: imensos nacos de arquibancada vazios e gente assistindo ao clássico
pendurada em telhados, no alto de ladeiras, de janelas de prédios e no cimo dos
morros, ação facilitada pela situação geográfica do Estádio Centenário,
incrustado no fundo de um vale da cidade. Não importa. Mesmo de longe, os
caxienses puderam ver um jogo movimentado, atraente sobretudo para os que
torciam para o Inter, que venceu por 2 a 1 com autoridade.
Essa
autoridade o Inter demonstrou desde que seus jogadores fincaram as chuteiras na
baixada do Centenário. Tratava-se de um time mais coerente. Não apenas porque
estava com seus titulares, mas porque seu esquema era equilibrado. Havia ali um
meio-campo com dois volantes atentos na marcação, Josimar e Ygor, um meia de
muita movimentação, Fred, e outro posicionado para armar as jogadas para o
ataque, D’Alessandro. Isso, esse meio-campo, foi a força do Inter no primeiro
tempo.
Do
outro lado, o Grêmio até tinha organização, no seu esquema com três zagueiros,
o que não tinha era material para fazer o time funcionar. Em tese, o 3-5-2 é um
sistema que libera os laterais. Bem, os laterais do Grêmio até que foram
liberados, só que os laterais do Grêmio eram... Tony e Alex Telles.
Muitas
vezes eles receberam a bola em condições de ir à linha de fundo e cruzar, ou de
entrar na área e chutar, ou de driblar, ou de tabelar com os meias, sabe-se lá,
mas não conseguiram – simplesmente porque não conseguem. Tony volta e meia
chegou a pegar a bola e fazer menção de que partiria para o drible, mas entre a
intenção e a execução havia sempre o pé do adversário. Alex Telles precisou se
conter um pouco mais, porque o Inter vez em quando avançava pelo seu lado com
Gabriel, mas, quando teve chance no ataque, tremeu. O velho medo de ser feliz.
Para
fechar a roda de incapacidades do esquema gremista, os dois zagueiros que
ladeavam Werley, Bressan e Grolli, são da estirpe de beques bem conhecidos da
Serra Gaúcha. Não só pelos nomes de origem italiana, mas porque a jogada
preferencial deles é o chutão para o alto. Nada contra a virilidade tradicional
dos jogadores de defesa da Serra, mas, num 3-5-2, os zagueiros têm que saber
jogar, e Bressan e Grolli não sabem.
Assim,
o Grêmio dependia de algum lance fortuito, uma escapada, um contragolpe, uma
bola parada. O Inter, não. O Inter pressionou com organização e, logo no
começo, quase marcou. Aos quatro minutos, num escanteio da direita bem cobrado
por Forlán, Dida escorregou e Juan cabeceou por cima. Três minutos depois, Dida
falhou de novo, em novo escanteio, e Moledo, de puxeta, acertou a bola no
travessão.
O
Inter seguiu rondando a área do Grêmio, mas sem nela entrar. Adriano e Biteco
faziam boa partida em frente à defesa, davam saída competente de jogo e, desta
forma, aos poucos, o Grêmio foi equilibrando o jogo. Tanto que, aos 20 minutos,
perdeu a melhor chance do primeiro tempo. Tony levantou a bola da direita e
Welliton, sozinho, mas sozinho mesmo, abaixou-se para cabecear e colocou para
fora. Um minuto depois, o mesmo Welliton vacilou diante da defesa do Inter e
desperdiçou outra boa oportunidade.
A
torcida do Inter começou a se enervar. Fred errou um passe e foi vaiado, os
murmúrios se espalhavam pela arquibancada. Aí o árbitro interrompeu a partida
para que os jogadores bebessem água. O Grêmio demorou um pouco mais, Luxemburgo
aproveitou para dar instruções. Na retomada do jogo, a bola de repente surgiu
na área do Grêmio, Forlán correu paralelo à linha da grande área e Matheus
Biteco, na tentativa de pará-lo, o derrubou. Pênalti. Forlán cobrou aos 28
minutos e marcou 1 a 0.
Talvez
o Grêmio tenha se perturbado um tanto com o revés, porque aquele entusiasmo com
que o time se comportava nos últimos 10 minutos pareceu arrefecido. O Inter
voltou a dominar o jogo e aos 31 minutos D’Alessandro quase marcou, chutando
forte de direita, a palmo e meio do travessão.
No
intervalo, Luxemburgo mudou o time: Bertoglio entrou no lugar de Bressan e
Willian José no de Moreno. Era o fim do esquema com três zagueiros. O problema
é que, logo no primeiro minuto, Dida falhou em outra cobrança de escanteio de
Forlán, e o Inter por pouco não ampliou o marcador. Aos 12, mais uma cobrança
de escanteio em que Dida ficou assistindo e então Moledo tocou de cabeça: 2 a
0.
Luxemburgo,
na premência de buscar resultado, colocou em campo o outro Biteco, Guilherme, e
tirou Welliton. O time ficou mais animado. Mas a superioridade era do Inter,
que tocava a bola, enquanto a torcida gritava olé das arquibancadas de pedra do
Centenário. Então, numa cobrança de escanteio, ocorreu o lance fortuito que o
Grêmio esperava: Josimar empurrou Douglas Grolli e o árbitro marcou pênalti.
Willian José converteu: 2 a 1.
Com
Guilherme Biteco e Bertoglio o Grêmio estava mais agressivo, mas o jogo ainda
era do Inter, sobretudo graças à movimentação inteligente de Forlán, sempre um
perigo à defesa gremista, insinuando-se principalmente pelo lado direito.
Ironicamente, o Grêmio também tinha um jogador livre pelo lado direito, só que
não devido à sua inteligência, e sim porque ele foi, na prática, esquecido
pelos demais jogadores.
Era
Tony, que se posicionava na intermediária dentro das suas chuteiras amarelas
sem que ninguém estivesse por perto. No entanto, ninguém lhe passava a bola.
Quando passavam, ele não sabia o que fazer com ela.
O
Grêmio dos Bitecos era mais valente, mas valentia não ganha jogo. O que ganha
jogo é futebol. O Inter teve mais futebol. Ganhou. Mereceu ganhar.
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