08
de fevereiro de 2013 | N° 17337
PAULO
SANT’ANA
Antipropaganda
A
melhor propaganda antitabagista que conheço está estampada neste maço de
cigarros Charm que tenho no bolso: há uma fotografia de um paciente no leito do
hospital, olhos fechados, como que esperando a morte, rosto macerado, pálido,
moribundo.
E ao
lado desse homem que está se despedindo da vida estão de pé sua mulher e um
filho do casal, estampada em seus rostos a prostração de estarem se despedindo
do paciente tão querido.
Não
há imagem mais eloquente do dano que o cigarro faz à vida do que essa
fotografia que o Ministério da Saúde impõe aos fabricantes de cigarros para que
com isso dissuadam os fumantes de prosseguir no vício.
É
chocante. E com certeza há de produzir excelentes resultados como campanha
contra o fumo.
Fiquei
cismando sobre se a moda pega e todo produto que fizer mal à saúde seja
obrigado a fixar em seu invólucro uma propaganda assim contra si próprio.
Esses
sanduíches gordurosos que figuram nos comerciais de televisão teriam de pôr
colado um selo no seu pão, dizendo que comer aquilo significa obesidade certa e
morte talvez por infarto lá adiante.
Por
sinal, todos os pães conteriam advertência contra a ação nefasta dos
carboidratos.
Sem
falar nas garrafas de bebidas alcoólicas, que teriam de ser postas à venda,
todas, com caveiras e esqueletos anunciadores de que aquelas bebidas são um passaporte
para a morte.
A
esse respeito, nunca me esqueço daquela prostituta porto-alegrense cujo caso há
uns 15 anos veio parar nos jornais.
Quando
ela estava contratando seus serviços amorosos com um cliente, advertia: “Você
vai comigo para a cama sabendo que terá de usar uma camisinha desestimulante e
que, se ela rebentar, você correrá o risco de adquirir aids, blenorragia,
sífilis ou outras tantas doenças venéreas. A sua cabeça é o seu mestre. Se
mesmo assim você quer fazer amor comigo, então vamos”.
A
maioria dos prováveis clientes daquela prostituta desistia. Mas ela demonstrava
um extraordinário sentido de responsabilidade ao mostrar aos clientes os riscos
que eles corriam com aquele contato sexual.
E
não era o Ministério da Saúde que obrigava aquela prostituta a tecer aquelas
ameaças premonitórias. Era sua consciência. Aquela mulher foi muito apreciada
quando o fato que ela criou apareceu na imprensa.
Se o
modo de proceder daquela prostituta prosperasse, haveria político candidato em
eleição que diria o seguinte para os eleitores: “Se você quer votar em mim,
vote. Mas eu correrei o risco de me corromper depois de eleito, levado a isso
pela influência do meio ou até mesmo de mera tentação”.
E me
lembro muito bem de que o primeiro produto que fez propaganda contra si próprio
foi o Ri-do-Rato, um veneno contra ratos, que dizia assim na sua embalagem:
“Cuidado, é extremamente perigoso lidar com este produto. Crianças e adultos
desavisados podem se envenenar ao ingeri-lo ou até mesmo ao tocá-lo”.
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