segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


Por CAROL RYAN

Filhas buscam redenção para mãe biológica escravizada

DUBLIN - Samantha Long e sua irmã gêmea, Etta Thornton-Verma, nasceram em 1972 e foram adotadas aos nove meses. Elas decidiram localizar sua mãe biológica em meados dos anos 1990. "Nada nos preparou para o que descobrimos", disse Thornton-Verma, que vive em Nova York.

Em 1995, elas encontraram a mãe, Margaret Bullen, na lavanderia da Sean MacDermott Street -uma das famosas "lavanderias de Madalena", ou casas de trabalho para garotas na Irlanda,- onde ela havia labutado desde 1967, seis dias por semana, sem receber pagamento. "Ela só tinha 42 anos, mas estávamos olhando para o rosto de uma aposentada", disse Long. "Era trabalho duro, alimentação ruim e trabalho forçado."

Long estava entre os presentes no Parlamento irlandês no dia 5 de fevereiro, quando o governo divulgou um relatório de mil páginas que concluiu que houve um "significativo envolvimento do Estado" no encarceramento de milhares de mulheres e meninas em um sistema de trabalho escravo que perdurou até 1996.

Ela e sua irmã estavam entre os que se decepcionaram quando o primeiro-ministro irlandês, Enda Kenny, deixou de fazer um pedido de desculpas oficial pela atuação do Estado nesses locais.

As gêmeas descobriram que sua mãe havia passado a infância em instituições do Estado e foi transferida para uma das "lavanderias de Madalena" na adolescência. Ela engravidou duas vezes enquanto esteve sob os cuidados da ordem religiosa que dirigia o local. Conversas com a mãe levaram as filhas a acreditar que elas foram concebidas em um ato de abuso sexual. Tanto as gêmeas como outra garota nascida quatro anos depois foram tiradas de Bullen.

Bullen morreu em 2003 de síndrome de Goodpasture, uma doença associada à exposição a substâncias tóxicas usadas em lavanderias.

As "lavanderias de Madalena" eram uma rede de dez instituições dirigidas por quatro ordens religiosas. Elas foram usadas para deter mulheres consideradas desgarradas em um país profundamente católico e conservador, muitas vezes entregues pelas próprias famílias.

O relatório descobriu que um quarto das mulheres eram enviadas para lá pelo Estado. As lavanderias funcionavam como um sistema carcerário paralelo, ao qual os tribunais irlandeses costumavam enviar mulheres que recebiam penas leves por pequenos crimes.

Calcula-se que apenas mil das 10.012 jovens que, segundo o relatório, passaram pelas lavanderias estejam vivas. Existe um amplo apoio do público a seus pedidos de retratação oficial e de indenização. A declaração de Kenny deixou claro que elas terão que esperar o Parlamento discutir o relatório antes de tomar qualquer medida.

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