12
de agosto de 2013 | N° 17520
SIGILO
QUEBRADO
Bandidos acessam dados de juízes com
senha de PM
Três
anos após o escândalo de espionagem envolvendo a Casa Militar, o Sistema de
Consultas Integradas da Secretaria de Segurança Pública do Estado volta a ser
motivo de dor de cabeça para o governo. Usando a senha de um policial militar,
bandidos de duas quadrilhas entraram no banco de dados sigiloso para aplicar
golpes e acessar as informações de pelo menos 58 juízes gaúchos. A revelação
foi feita ontem, pelo Fantástico, em reportagem produzida pela RBSTV sobre
venda de informações pessoais no Brasil.
Duas
investigações apuram o mau uso do banco de dados. Numa delas, o Ministério Público
do Estado prendeu sete pessoas acusadas de aplicar um golpe de R$ 1,7 milhão no
Tribunal de Justiça. O dinheiro foi depositado em uma conta por uma empresa de
telefonia como caução. Serviria para garantir o pagamento de indenização a um
comerciante de Tapejara, que está processando a companhia.
–Eles
falsificaram em nome do autor da ação um alvará judicial e também os documentos
desse autor da ação para que, em nome dele, fosse levantando um valor de R$ 1,7
milhão de reais – explica o promotor Flávio Duarte, da Promotoria Especializada
Criminal.
Os
dados que permitiram a fraude foram retirados do Sistema de Consultas
Integradas, que guarda as informações pessoais e ocorrências criminais de todos
os gaúchos. Além da senha do PM, o bando contava com a ajuda de um policial
civil de Porto Alegre, de acordo com o promotor.
– Confere
meu nome, do pai, da mãe, cidade, data de nascimento, confere tudo. A gente
fica indignado. Como é que uma pessoa que eu nem conhecia, vai ter acesso a um
documento meu? – indigna-se o comerciante de Tapejara, ao ver uma cópia da sua
carteira de identidade, com a foto do golpista.
Segundo
a investigação do MP, os dados da vítima e dos juízes foram acessados da casa
de um dos suspeitos presos, Paulo Ricardo Domingos Cesin, na Capital. Ele foi
localizado pela reportagem da RBSTV depois de deixar a prisão. Admitiu que
alugou de outro golpista a senha do PM, por R$ 350 mensais. Negou ter espionado
magistrados, lembrando que a senha é compartilhada por outros falsários.
– Eu
sei que esse cara (que alugou a senha a Cesin) divide essa senha com outras
quatro pessoas. Pode ter sido uma delas (que espionou os juízes) – declarou,
sem saber que estava sendo gravado
PM
nega esquema para acesso ao banco de dados
O
suspeito afirmou acreditar que a senha do PM, lotado no Batalhão Rodoviário de
Portão, teria sido roubada do computador dele. Procurado pela reportagem, o
policial militar não quis se manifestar e negou ter negociado o acesso ao
sistema. Entre os juízes que tiveram os sigilos quebrados está Sidinei Brzuska,
responsável por fiscalizar presídios gaúchos. Ele soube pelo Fantástico:
– Causa
perplexidade que alguém do crime tenha acesso a essas informações. Minha
preocupação é que, com base nesses dados, sejam acessados dados de familiares
da gente.
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