19
de agosto de 2013 | N° 17527
L.F.
VERISSIMO
A explicação
Já
se especulou como a História seria outra se Adolf Hitler tivesse se tratado com
seu conterrâneo e contemporâneo Sigmund Freud, em Viena. Curado dos seus
complexos e de suas fobias, Hitler teria abandonado a ideia de dominar o mundo
e vivido uma pacata vida de burguês, ou talvez se contentado em dominar só um
quarteirão. O fascismo não passaria de uma breve erupção hormonal italiana e
jamais chegaria à Alemanha, ou se chegasse seria sob um líder mais equilibrado.
Também
se especula sobre o que aconteceria se, por alguma mágica, o diretor de
admissões da Academia de Belas Artes de Viena fosse avisado de que deveria
aceitar o pedido de matrícula de um certo Adolf Hitler sem fazer perguntas.
–
Mas ele é um pintor medíocre. – Aceita. – Mas... – Aceita!
Não
avisaram a Academia das consequências de barrar a entrada de um certo Adolf
Hitler e frustrar suas ambições artísticas e deu no que deu.
Falando
em Hitler... Ainda não vi esse filme sobre a Hanna Arendt e não sei como é
tratada a relação dela com Martin Heidegger, que foi seu professor e amante.
Pelo que sei, ela nunca repudiou ou criticou Heidegger abertamente, mesmo
depois da revelação de que ele não fora apenas simpatizante do nazismo, mas
atuara, no meio acadêmico, como um ativo agente do regime , inclusive
denunciando e perseguindo colegas que não seguiam a mesma linha.
O
crítico George Steiner escreveu sobre Heidegger e o paradoxo de intelectuais –
outro citado por ele é o poeta Ezra Pound – que nos seus escritos defendem
ideais clássicos de civilização e civismo (Steiner chega a dizer que Heidegger
e Pound são os dois maiores mestres do humanismo do nosso tempo) e ao mesmo
tempo se deixam seduzir pelo fascismo, com sua desumanidade evidente. Qual será
a conexão invisível na contradição? O que torna a alta cultura tão
incompreensivelmente vulnerável ao apelo da barbárie?
Talvez,
tanto no caso do Heidegger fascista como no caso da Hanna Arendt compreensiva,
a explicação seja, simplesmente, o amor. Do Heidegger não pelo fascismo mas
pelo poder, da Hanna pela lembrança de uma paixão intelectual e física mais
forte do que qualquer julgamento moral.
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