sexta-feira, 23 de agosto de 2013


23 de agosto de 2013 | N° 17531
DAVID COIMBRA

Meus amigos, meus discos e livros, e nada mais

Estava ouvindo de novo aquela música do Zé Rodrix que a Elis cantava com uma voz de semideusa do Monte Olimpo, Casa no Campo. Não é isso que toda pessoa de mente saudável quer? Um lugar tranquilo para viver, onde se possa plantar os amigos, os discos, os livros e nada mais. Um lugar em que se possa ouvir o silêncio das línguas cansadas.

Quero isso também. Não preciso de elevadores e escadas rolantes, não preciso de gravatas, carros importados, festas feéricas ou celulares com três gês. Pouco me importa o que está bombando nas redes sociais, a briga entre o Barbosa e o Lewandowski ou a alta do dólar. Não quero fama, não quero fortuna. Quero apenas a esperança de óculos e meu filho de cuca legal.

É pedir muito? Hoje talvez seja.

As pessoas estão agressivas. Vi numa foto de jornal o rosto infeliz de um homem que teve o nariz e os dentes quebrados a socos por outro homem. Ele apanhou na frente da mulher e da filha de dois anos, que passou o dia vomitando devido ao trauma. Por que tanta brutalidade? Por causa de uma discussão de trânsito. Por causa de um carro que teve a lataria arranhada.

Leio que em todo o mundo os chamados black blocs se dedicam a quebrar coisas e a jogar bombas caseiras na polícia. Eles acreditam que o mundo vai melhorar pela violência.

E parece que no feriado de 7 de Setembro vão ocorrer mais manifestações contra... tudo.

As pessoas estão insatisfeitas.

Não é por causa de 20 centavos, nem do excesso de carros, nem dos baixos salários, nem da falta de saúde, segurança e educação. As pessoas estão insatisfeitas porque o sistema de vida do século 21 não está funcionando. Não é o capitalismo que está errado, nem o socialismo, nem qualquer outro modelo.


A vida, como está sendo vivida, é que está errada. Porque parece que as pessoas precisam de muito, parece que elas precisam de carros potentes, festas feéricas, celulares três gês, seguidores nas redes sociais, fama e fortuna, quando elas não precisam de nada disso, quando as pessoas só precisam de uma vida simples e boa. Só isso. Simplicidade. Apenas um lugar em que se possa ficar do tamanho da paz, em que se tenha a certeza dos amigos do peito, e nada mais.

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