20
de agosto de 2013 | N° 17528
ARTIGOS
- Silvia Sperling Canabarro*
Tristeza não tem fim, felicidade
sim
Há pouco
tempo, assisti a mais uma reportagem sobre autismo, este tema que tanto me
interessa e que, oportunamente, vem ocupando um grande espaço na mídia. Mas uma
cena me chocou e se instalou em minha mente e desassossegou meu coração. Um
menino com oito anos, idade próxima da de meu filho, levanta-se continuamente
na madrugada para tomar banho e deita-se nu após cada ducha. É contido pelo pai
para que permaneça na cama e, após muito grito e resistência, acaba adormecendo
por um breve período.
Seus
pais estão destroçados pela desesperança e cansaço, suas falas e seus rostos
exprimem toda a dor que consome suas vidas.
Sei
que períodos difíceis estão presentes na história de todos nós, mas sei também
que as dificuldades tornam-se mais cruéis e intransponíveis em famílias
desassistidas financeiramente e sem amparo informativo e profissional. A
pobreza aliada à desinformação transforma o doente mental em um ser primitivo e
de complicada socialização.
Cenas
de indivíduos enjaulados já chocaram muitos de nós e provocaram revolta. Neste
instante, deve haver pes-soas encarceradas em cubículos em vários cantos deste
país. Essa situação lamentável e dramática existirá enquanto a informação não
penetrar em todos os lares e permanecermos com tão poucos profissionais
qualificados no diagnóstico e tratamento das enfermidades mentais.
As
horas, os dias, os meses, os anos passam. Momentos felizes, tempos de tormenta,
calmaria, desespero. Ciclicamente, nós, pais de autistas, vivemos. Mas, em meio
a essa instabilidade que nos assola continuamente, queremos enxergar
oportunidades para nossos filhos e, solidariamente, para todas as famílias que
trilham o mesmo caminho que o nosso. Não podemos prever se amanhã nosso filho
falará, trabalhará ou viverá de maneira independente. Mas exigimos respeito.
Não
somente um sorriso e um olhar de compaixão, e sim serviços dignos. Um diagnóstico
precoce realizado por pediatras treinados, tratamentos de estimulação e acesso
a medicamentos. Escolas aptas a receber e educar nossas crianças diferentes,
sejam elas instituições regulares ou especiais. Sim, queremos poder optar pela
estrutura de ensino que se adapta e contribui com o desenvolvimento de nosso
filho, de acordo com a severidade de sua doença e com o momento que ele vive.
Quando
uma criança é inserida na escola regular precocemente, ou seja, na educação
infantil, a chance de sucesso em sua inclusão é bastante elevada, pois ela se
adapta a essa realidade, sente-se confiante nesse ambiente e, mesmo passando
por períodos de crise inerentes à doença, tem o auxílio dos colegas que crescem
aprendendo a conviver com suas diferenças. Os professores são incentivados a
especializarem-se no atendimento à criança com deficiência, e desenvolve-se um
laço afetivo mais sólido entre funcionários e o aluno especial.
Mas
como inserir repentinamente em uma escola regular um adolescente que cresceu em
uma instituição especializada, que só conhece essa realidade, possui uma rotina
estruturada e tranquilizadora, com amigos iguais a ele e professores
capacitados nesse modelo de ensino?
Como
podem querer simplesmente fechar as portas de todas as escolas especiais?
Ao
invés de ampliarem os locais de atendimento, restringem a uma única opção
ditatorial e simplista. É como se reduzissem o tratamento medicamentoso de
todos os autistas a um único fármaco.
Realmente,
dessa maneira, outras cenas comoventes e desestabilizadoras invadirão nossos
olhos e corações, e será cada vez mais difícil encontrar um pouco de alegria em
nosso carrossel de emoções.
*NUTRICIONISTA
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