16
de agosto de 2013 | N° 17524
CINEMA
Quase uma odisseia
Um
ano após a morte de seu diretor, Sérgio Silva, “Quase um Tango” finalmente
estreia no cinema
Quatro
anos depois de ser premiado no Festival de Gramado e um ano após a morte de seu
diretor, o longa-metragem Quase um Tango, finalmente, entra em cartaz. O último
trabalho do cineasta Sérgio Silva pode ser conferido de hoje a 22 de agosto, no
Cine Santander.
A
estreia encerra o longo percurso do filme até chegar à sala de cinema, embora não
no prazo e tampouco na forma desejados por Sérgio, razão da frustração que o
diretor e professor expressava sempre que perguntado sobre os rumos de seu
derradeiro trabalho.
Sérgio
morreu no dia 15 de agosto de 2012, aos 66 anos, em decorrência de um câncer de
pulmão. À época, como agora, estava em curso o Festival de Gramado, evento no
qual ele havia conquistado grande reconhecimento como cineasta.
Exibiu
na Serra, fora de competição, em 1997, Anahy de las Misiones, longa aplaudido
por público e crítica e posteriormente consagrado com sete troféus no Festival
de Brasília, entre eles melhor filme, direção e atriz, para Araci Esteves. Em 2003,
com Noite de João, viu Marcelo Serrado erguer o Kikito de melhor ator. E no
Festival de Gramado de 2009, exibindo Quase um Tango, o próprio Sérgio subiu ao
palco para receber o troféu de melhor roteiro pelo filme que valeu o prêmio de
atuação feminina a Vivianne Pasmanter.
Após
três realizar três longas de época – o primeiro, Heimweh/Nostalgia (1990), em 16mm,
foi codirigido com o crítico de cinema Tuio Becker –, Sérgio dedicou-se a apresentar
em Quase um Tango uma trama contemporânea. Escreveu o roteiro já pensando em
Marcos Palmeira para o papel de Batavo, um ingênuo agricultor gaúcho filho de
pai holandês que, após ser abandonado pela mulher, decide deixar o campo para
reconstruir a vida em Porto Alegre. Vivianne interpreta as quatro personagens
femininas que se relacionam com o protagonista.
Contemplado
na edição de 2005 do extinto prêmio RGE, o filme teve realização conturbada,
creditada ao atraso nos repasses da verba de R$ 1,5 milhão – o orçamento total
era de R$ 3,6 milhões, mas, via leis de incentivo, só chegou a R$ 2,1 milhões,
segundo a produtora Gisele Hiltl.
Sérgio
captou as imagens em 35mm. Mas, sem dinheiro para fazer cópia em película, o
diretor aceitou apresentar o filme em Gramado no suporte digital, opção que,
dizia, prejudicou o investimento em fotografia e iluminação. “Eu me arrependo
muito dessa decisão. Foi uma frustração muito grande. Não quero mais passar por
isso”, afirmou Sérgio a ZH em maio de 2010, quando ainda não tinha previsão
para lançar o filme.
– Fizemos
uma correção de luz para exibir o filme em Gramado. Sérgio sofreu muito com
esse processo. Ele era um homem de cinema, não lidava bem com o digital. O
grande problema se chama grana. Precisávamos de R$ 180 mil para fazer as cópias
em película – afirma Gisele.
De
acordo com a produtora, o histórico de Sérgio, a repercussão e as premiações em
Gramado e os nomes conhecidos do elenco apontavam um prazo menor para Quase um
Tango estrear aos cinemas:
– Chegamos
a alinhavar a distribuição nacional com a Downtown, mas não foi adiante também
por razões financeiras.
Com
a nova lei da TV paga, que estimula a presença de conteúdo nacional na televisão,
a exibição de Quase um Tango, prevê Gisele, deve ter melhor sorte do que na
odisseia cumprida rumo ao cinema. De acordo com ela, Canal Brasil e Prime Box
Brazil já manifestaram interesse pelo filme.
Quase
um Tango será exibido no Cine Santander a partir de uma matriz em DVD. A sessão
das 19h de hoje será seguida de debate com Gisele e outros integrantes da
equipe do filme: o montador Giba Assis Brasil, a atriz Lourdes Kauffmann, o
assistente de direção Vicente Moreno e o diretor de platô João Divino.
marcelo.perrone@zerohora.com.br
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