21
de agosto de 2013 | N° 17529
EDITORIAIS
ZH
MENOS ESPETÁCULO
A
retomada hoje do julgamento dos embargos infringentes dos réus do mensalão, por
meio dos quais os condenados procuram retardar a execução das penas, ocorre sob
a expectativa de reversão do quadro de altercações e pouca civilidade
registrado na última sessão entre os ministros Joaquim Barbosa, presidente da
Corte e relator do processo, e Ricardo Lewandowski, revisor.
O
bate-boca que provocou o encerramento súbito da última sessão, em meio ao visível
constrangimento dos demais ministros, não foi inédito. Há alguns anos, os
brasileiros familiarizaram-se com as disputas de caráter nem sempre judicial
entre os integrantes da mais alta Corte do país.
A
circunstância de que as sessões do Supremo passaram a ser transmitidas ao vivo
para todo o país pela TV Justiça é agravante, e não causa desse lamentável
espetáculo tantas vezes reencenado. Transparência é sempre preferível a
instituições que funcionam nas sombras, a portas fechadas, e a Constituição de 1988,
ao enfatizar o princípio da publicidade na administração pública, estimulou de
forma elogiável a abertura de todos os poderes da República ao escrutínio dos
cidadãos em nome dos quais exercem suas prerrogativas.
Todo
avanço, porém, implica novos perigos a serem evitados para que o poder público,
no afã de sanar um mal, não incorra no equívoco oposto. É o que se espera dos
ministros do Supremo Tribunal Federal neste momento histórico da vida nacional,
em que mais uma vez se coloca à prova a capacidade do Estado brasileiro de
praticar a máxima de que todos são iguais perante a lei, independentemente da
posição ocupada na escala social ou de poder.
O
preço da transmissão ao vivo das sessões do Supremo tem sido a discutível
performance de alguns ministros, que parecem excessivamente seduzidos pelos
holofotes. É fato que, depois de terem sido os julgamentos inseridos na
programação da TV Justiça, há uma tendência inequívoca ao alongamento dos
votos, algumas vezes permeados de recursos retóricos, e a uma certa
espetacularização dos debates no Pleno.
O
Supremo é o corolário do Poder Judiciário, Corte devotada a matérias de
natureza constitucional e apenas circunstancialmente obrigada a julgar
processos como o do mensalão, em vista do estatuto do privilégio de foro, cada
vez mais questionado em nosso país. Espera-se, pois, dos ministros de tão
elevada Corte um comportamento conforme ao decoro e à circunspecção normalmente
associadas a instituições tão relevantes.
Não é
por outra razão que o Legislativo, tantas vezes espezinhado mundo afora pelas
atitudes inapropriadas de alguns de seus integrantes, fixou a norma do decoro
parlamentar. Não é possível nem cabível fazer o mesmo no Supremo, onde os
ministros gozam da prerrogativa da vitaliciedade. Justamente por isso, o único
remédio que pode ser prescrito aos excelentíssimos ministros é o bom senso. Trata-se
de medicamento caseiro, feito de matéria abundante na natureza e, por isso
mesmo, passível de ser administrado sem ônus aos cofres públicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário