ELIO
GASPARI
Uma diplomacia estudantil
O
Itamaraty é coisa séria, mas, com suas trapalhadas, o comissariado transformou-o
numa usina de desastres
A
doutora Dilma tem dois chanceleres, um no Planalto e outro no Itamaraty. Apesar
disso, restou ao Brasil uma diplomacia trapalhona, cenográfica e inepta. A
desova do senador Roger Pinto no território brasileiro transformou uma conduta
inamistosa do governo da Bolívia numa estudantada brasileira. Custou o lugar ao
chanceler Antonio Patriota. Ele vai para Nova York, mas o comissário Luís Inácio
Adams continua advogado-geral da União.
O
doutor sustentou que, caso um médico cubano peça asilo territorial no Brasil,
será devolvido a Cuba. Agradando o aparelho dos irmãos Castro, ofendeu a história
do país e o direito. No ano passado, o Brasil meteu-se noutra estudantada,
expulsou o Paraguai do Mercosul e agora corteja seu governo. É uma diplomacia
de palavrório e negócios. Patriota foi um detalhe.
A
ideia segundo a qual o encarregado de negócios do Brasil em La Paz
contrabandeou o senador até a fronteira com o Brasil porque apiedou-se de seu
estado emocional é pueril. Se os embaixadores começassem a ser orientados pelos
seus sentimentos, seria melhor fechar a Casa. A boa norma determina que um
governo dê o salvo-conduto a um asilado em algumas semanas. No exagero, alguns
meses. O presidente Evo Morales não quis fazer isso. Direito dele. O político
peruano Haya de La Torre ralou cinco anos numa sala da embaixada da Colômbia em
Lima. O cardeal Jozsef Mindszenty, outros 15 na embaixada dos Estados Unidos (que
não são signatários das convenções de asilo diplomático) na Hungria.
Se
alguém pensou que combinou a fuga com Evo Morales, fez papel de bobo e
transformou o algoz em vítima. Transferiu o vexame para o diplomata Eduardo
Saboia, deixando-o numa posição de franco-atirador. Coisa parecida fez no mundo
dos negócios, quando transferiu para o embaixador do Brasil em Cingapura uma
transação meio girafa que favorecia os interesses do empresário Eike Batista.
A
maneira como a diplomacia de Lula e da doutora lidaram com o instituto do asilo
revela desrespeito histórico com um mecanismo que protegeu centenas de
brasileiros perseguidos por motivos políticos. Ele ampara gregos e troianos. Em
1964, brasileiros asilaram-se na embaixada boliviana. Anos depois, oficiais
golpistas bolivianos asilaram-se na embaixada brasileira e o governo
esquerdista do general Juan José Torres deu-lhes salvo-condutos em 37 dias.
Carlos
Lacerda asilou-se por alguns dias na embaixada de Cuba e João Goulart pediu
asilo territorial ao Uruguai. Em poucos meses, o governo do marechal Castello
Branco concedeu salvo-condutos a todos os asilados que estavam em embaixadas
estrangeiras. Já o do general Médici, vergonhosamente, fechou as portas de sua
representação em Santiago nos dias seguintes ao golpe do general Pinochet e
dezenas de brasileiros foram obrigados a buscar a proteção de outras bandeiras.
Contudo,
nem mesmo Médici deportou estrangeiros para países onde poderiam ser
constrangidos. Isso ocorreu durante a gestão do comissário Tarso Genro no
Ministério da Justiça, com dois boxeadores cubanos que, posteriormente,
voltaram a fugir da ilha.
O
direito de asilo é uma linda tradição. Não se deve avacalhá-lo.
Nas
próximas quatro quartas-feiras o signatário estará refugiado no ócio.
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