sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Jaime Cimenti

Agosto, protestos, Plano Real, primavera

Agosto, mês do desgosto, mês do cachorro louco, o tempo escorrendo feito as águas das chuvas, o sol e a lua se revezando nos céus, a vida continuando e os temas inevitáveis pautando o cronista. Terminadas as férias, o Papa, com muitas saudades de Copacabana, está de volta a Roma para tentar botar ordem lá na casa dele e no banco do Vaticano; o bebê real-imaginário londrino está de volta ao berço anônimo, mamando feito um senador. Por aqui, o vaivém dos protestos.

A falta de direção, ao mesmo tempo, é a fraqueza e a força das manifestações, que, se não são tecnicamente “movimentos sociais,”devem ser observadas, analisadas e comentadas, como fez o professor Raúl Rojo em grande entrevista para a revista Press. O parto do Brasil vai seguindo demorado, como disse o poeta João Cabral de Melo Neto, e vamos tentando amar e entender nossa pátria, que, como falou Tom Jobim, não é para amadores.

Tomara que ela seja menos subtraída em tenebrosas transações, faladas no samba do Chico Buarque. O Plano Real, possivelmente o fato histórico mais importante da História do Brasil, especialmente em termos de movimentação da sociedade e que resultou em grandes conquistas sociais, políticas e econômicas, pode ser comparado, de certo modo, com as manifestações sociais atuais. Antes era a voz rouca das ruas pedindo o fim da inflação, que era nosso pior problema e o maior fator de desigualdade social. Os políticos e os técnicos da época ouviram e agiram.

Agora são as vozes na internet e em outras mídias e as vozes, não roucas, nas ruas e praças, fazendo reivindicações diversas, pedindo o fim da corrupção, melhor aplicação do dinheiro público, mais saúde, educação e segurança. Cedo ainda para análises mais profundas e/ou definitivas, mas é bom ter uma esperança realista e achar que os protestos e a movimentação toda resultem em pessoas e País melhores. O tempo precisa fazer o papel dele.

Como disse o outro, o tempo se vinga das coisas feitas sem a colaboração indispensável dele. No fim vai dar tudo certo. Se não deu, é por que ainda não chegamos no fim. Pensando bem, melhor nem pensar no fim. Melhor pensar que a hora mais escura é a que antecede o nascer do sol e que a vida é mais começo e recomeço do que ponto final. Melhor entrar numas de que agosto não é mais mês do desgosto, dos cães danados e das chuvas, frios e ventos chatos.

Chega de clichê! De mais a mais, logo em poucas semanas a desabrochante primavera vai chegar, arrebentando bocas de balões, liquidando com as bronquites, rinites, sinusites e outras ites e deitando cor de chocolate e mel na pele das gaúchas, as mulheres mais lindas da terra.


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