Jaime
Cimenti
Agosto, protestos, Plano Real,
primavera
Agosto,
mês do desgosto, mês do cachorro louco, o tempo escorrendo feito as águas das
chuvas, o sol e a lua se revezando nos céus, a vida continuando e os temas
inevitáveis pautando o cronista. Terminadas as férias, o Papa, com muitas
saudades de Copacabana, está de volta a Roma para tentar botar ordem lá na casa
dele e no banco do Vaticano; o bebê real-imaginário londrino está de volta ao
berço anônimo, mamando feito um senador. Por aqui, o vaivém dos protestos.
A
falta de direção, ao mesmo tempo, é a fraqueza e a força das manifestações,
que, se não são tecnicamente “movimentos sociais,”devem ser observadas,
analisadas e comentadas, como fez o professor Raúl Rojo em grande entrevista
para a revista Press. O parto do Brasil vai seguindo demorado, como disse o
poeta João Cabral de Melo Neto, e vamos tentando amar e entender nossa pátria,
que, como falou Tom Jobim, não é para amadores.
Tomara
que ela seja menos subtraída em tenebrosas transações, faladas no samba do
Chico Buarque. O Plano Real, possivelmente o fato histórico mais importante da
História do Brasil, especialmente em termos de movimentação da sociedade e que
resultou em grandes conquistas sociais, políticas e econômicas, pode ser
comparado, de certo modo, com as manifestações sociais atuais. Antes era a voz
rouca das ruas pedindo o fim da inflação, que era nosso pior problema e o maior
fator de desigualdade social. Os políticos e os técnicos da época ouviram e
agiram.
Agora
são as vozes na internet e em outras mídias e as vozes, não roucas, nas ruas e
praças, fazendo reivindicações diversas, pedindo o fim da corrupção, melhor
aplicação do dinheiro público, mais saúde, educação e segurança. Cedo ainda
para análises mais profundas e/ou definitivas, mas é bom ter uma esperança
realista e achar que os protestos e a movimentação toda resultem em pessoas e
País melhores. O tempo precisa fazer o papel dele.
Como
disse o outro, o tempo se vinga das coisas feitas sem a colaboração indispensável
dele. No fim vai dar tudo certo. Se não deu, é por que ainda não chegamos no
fim. Pensando bem, melhor nem pensar no fim. Melhor pensar que a hora mais
escura é a que antecede o nascer do sol e que a vida é mais começo e recomeço
do que ponto final. Melhor entrar numas de que agosto não é mais mês do
desgosto, dos cães danados e das chuvas, frios e ventos chatos.
Chega
de clichê! De mais a mais, logo em poucas semanas a desabrochante primavera vai
chegar, arrebentando bocas de balões, liquidando com as bronquites, rinites,
sinusites e outras ites e deitando cor de chocolate e mel na pele das gaúchas,
as mulheres mais lindas da terra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário