21
de agosto de 2013 | N° 17529
ARTIGOS
- Cleber Benvegnú*
Partidos políticos ou sabonetes?
O
marketing emprestou inestimáveis contribuições para a política. Migramos de uma
linguagem rebuscada e burocrática para uma comunicação moderna, simbólica e
emotiva assim como é a própria vida. Porém, essa evolução trouxe consigo
diversas contradições, especialmente quando a política subjugou-se à lógica da
propaganda como se fosse reles objeto à venda na prateleira do supermercado.
Os
partidos brasileiros, adotando um viés consumista por cargos, dinheiro e espaços
de poder, assumiram a estratégia do sabonete – inclusive no sentido de que
deslizam com facilidade. Isto é: viraram mero subproduto do marketing,
marionetes adaptáveis a qualquer situação. Confundiram-se. Igualaram-se. Coisificaram-se.
E, faz muito tempo, deixaram de inspirar e de liderar. Formaram uma grande
geleia geral.
Isso
não quer dizer que as ideologias acabaram. Ainda é possível identificar raciocínios
com matriz ideológica. Porém, na medida em que trocam as ideias por mero jogo
de curto prazo, os partidos caminham para um gradual esgotamento – se não como
instituição, certamente como significação. E eis que, na perspectiva da coerência,
só sobram os extremistas – coerentes com suas próprias maluquices e, benza
Deus, aceitos por ínfima parcela da população.
As
legendas, salvo raras iniciativas, abdicaram de pensar. Abriram mão de suas
ideias. Desistiram de formar opinião. Pesquisas quantitativas e qualitativas,
para medir o que o povo quer, tomaram lugar dos cursos de preparação de líderes.
Em vez de convencer, navegam no que convencido está. Não importa tanto o que
dizer, mas dizer o que a média quer ouvir. A biruta tomou lugar da bússola: o
vento dita o rumo. A moda é ser querido, leve, palatável, simpático e não
comprar qualquer briga com corporações, grupos de interesse ou famosos do
politicamente correto.
Nessa
expectativa de agradar a todos, muitas siglas acabam descuidando de seus
potenciais públicos cativos. Basta ver que, enquanto grande parte dos
brasileiros se identifica com ideias conservadoras (de base judaico-cristã), as
agremiações com essa origem fogem desse viés direitista. Covardemente, aceitam
a própria pejoração.
Mudar
esse cenário passa por assumir identidades. Ter lado, ter cara, ter posição,
ter bandeira – por mais que desagrade a parte do eleitorado. A descrença do
ambiente partidário, portanto, não é apenas de representação. É também, e acima
de tudo, uma crise de inspiração e de liderança. O povo cansou de sabonetes na
política. Está na hora de políticos e partidos de verdade.
*JORNALISTA
E CONSULTOR POLÍTICO
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