VINICIUS
TORRES FREIRE
Paradinha lá e cá
Preço
do dólar recua em dia em que juros na praça americana caem também um tico
O DÓLAR
DEU uma paradinha ontem. Foi o Banco Central despejando dólar na praça? Foi o
presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, falando grosso depois de o
mercado ter fechado ainda fibrilando, na segunda-feira?
Pode
ser. Mas o fato é que o mercado americano "deu um tempo". Os juros
desceram um degrauzinho por lá. No Brasil, a alta muito rápida do rendimento
dos títulos da dívida pública americana é que tem dado o tom da tendência de
desvalorização desde maio.
Não
havia previsões de que o dólar no Brasil fosse andar nessa toada. Difícil alguém
ter a coragem de dizer que a taxa de câmbio vai mudar de passo sem que os juros
nos EUA se acalmem também.
No
mercado americano, o chute informado envolve descobrir até onde vão os juros de
mercado até setembro, quando o banco central dos Estados Unidos, o Fed, decide
se reduz o despejo de dinheiro na praça.
Temos
uma dúvida montada sobre outra: a desvalorização do dólar depende dos juros
americanos, que não se sabe onde vão parar.
Uma
enquete feita pela empresa de notícias e serviços financeiros Bloomberg com
gente mais certeira do mercado informa que, no final do ano, os juros
americanos vão um tico abaixo de onde estão agora (em torno de 2,8% para os papéis
de dez anos). Isso não quer dizer que as taxas não possam dar pulos até setembro,
passeando por volta de 3%, 3,25%, com o que o dólar aqui poderia ir a R$ 2,50,
segundo alguns chutes informados brasileiros.
Hoje
são publicadas as explicações do Fed sobre sua última reunião. Tem gente a
dizer que a exposição de motivos já está vencida, dados os últimos
acontecimentos. Isto é, não vai dar direção muito precisa do que pode acontecer.
Como
se não bastasse, há gente nos EUA dizendo que a situação dos juros está "volátil"
porque o mercado ainda não voltou das férias de verão (que terminam no início
de setembro). Agosto costuma ser mês de "baixa liquidez", menos negócios
e dinheiro. Logo, a gente não pode se mirar pelo exemplo de agosto.
Mas,
desde maio, os empréstimos para governos e empresas de emergentes caíram pela
metade sobre o mesmo período do ano passado. Foi no final de maio que começou a
conversa de mudança de política monetária nos EUA. Os problemas de agosto não são
moda de verão.
Importante
lembrar que o verão americano pode deixar muito país chamuscado, como Turquia,
Indonésia, Índia ou Tailândia (espera-se que não o Brasil), talvez em breve países
da periferia leste da Europa (ex-comunistas). Os estragos podem alterar o rumo
dos acontecimentos de modo imprevisto.
Isto
posto, não há muita consequência nova para a política econômica brasileira (afora
em caso de acidentes ou desastres. Mudanças grandes na política econômica
americana costumam tirar uns bichos estranhos da toca). Segurar despesas (o que
ajuda a segurar deficit externo e inflação) e não inventar moda, além de fazer
bons leilões de privatização de infraestrutura, reduzem o risco de crise, mas
deviam estar no menu de ações faz tempo.
O
governo dizer que o "dólar está sob controle" (não está), que o dólar
novo é bom para a indústria (é, mas não basta) e outros clichês anódinos do "manejo
de expectativas" é puro vento.
vinit@uol.com.br
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