terça-feira, 13 de agosto de 2013


13 de agosto de 2013 | N° 17521
LUÍS AUGUSTO FISCHER

Rock, pop e humor

Meu amigo e parceiro Arthur de Faria me presenteou com o mais recente trabalho gravado do Wander Wildner y sus Comancheros, que ouvi assim que ganhei. Que troço legal, bá. Se chama Mocochinchi Folksom, porque mistura pouca não serve. O Wander já fez várias, como o senhor sabe, desde o tempo dos Replicantes. E com o tempo parece ter depurado seu senso para acomodar criativamente um monte de informação, tratada de forma crítica e irônica, sobre uma forma musical muito familiar aos ouvidos nossos, educados pelo rock e pelo pop.

(Defendo, há tempos, uma tese de importância duvidosa, mas forte: depois do rock, depois de Beatles, Stones, Bob Dylan, Rita Lee e até Roberto Carlos, acabou o conflito de gerações. Desde que ouvir essa gente e usar jeans com qualquer comprimento de cabelo passou a ser comum, a gente se entende. Não quer dizer que não haja conflito; o que acabou foi aquele abismo nascido do rock para trás, da televisão para trás. Voltemos ao Wander, depois desse intervalo.)

O que é mais legal de tudo é o jeito do Wander Wildner. Não estou falando da performance, que é relevante em shows e o tem levado a uma condição de “cult” Brasil afora, como uma espécie de último punk verdadeiro, mas sobrevivendo bem. Estou falando da cabeça, da visão das coisas, do modo como os assuntos entram em circulação na obra dele. A primeira canção já no nome nos faz sorrir: O Breakfast do Tio Dylan.

Porra, tio Dylan é um achado: bem isso, ele é nosso tio, esquisitão mas legal; sem ele nossa vida não seria a mesma. No centro do CD, vem a canção Mocochinchi, que dá um texto inimaginável em rock trivial: ali se relata em detalhes e com linguagem elegante que o governo da Bolívia anunciou que ia fechar McDonald’s e a filial da Coca-Cola. A sério, tanto a notícia quanto o tom da voz e da composição, num resultado sensacional.


Fiquei pensando em outra tese que preciso de mais tempo para desenvolver: o rock gaúcho tem uma família de irônicos da melhor qualidade, consideradas todas as paragens, nacionais ou estrangeiras. Pensa aí: tem o surrealismo irônico do Júpiter Maçã; a ironia triste e meio niilista do Humberto Gessinger; tem a fina ironia pop do Bidê ou Balde; tem o romantismo irônico do Frank Jorge. E tem essa ironia ferinamente punk do Wander. Entre outros! Entre outros!

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