13
de agosto de 2013 | N° 17521
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Ele veio de carruagem, ela esperava
uma carreta de bois
Príncipe
conversa com seu confidente. Acabou de se separar da Cinderela. Abrem-se as
cortinas.
– Por
que vocês se separaram? – Ela explicou que eu amava demais.
– Amor
demais? Tá de sacanagem? Aprontou alguma?
– Não,
amei demais. – Ninguém se separa por amor demais.
– Sim,
ela se separou de mim por este motivo. – Traição, ciúme, ressentimento são as
causas mais comuns.
– Não,
havia química poderosa. A gente ria muito. Os amigos enxergavam nosso
contentamento. Admiravam nossa felicidade.
– Ria?
– Sim, de gargalhar, de doer de gargalhar. Bebíamos de noite conversando
bobagem.
– Não
faz sentido. Explica? – Era muita surpresa para uma rotina. Casal perfeito,
sabe?
– Sem
filosofia, ela alegou o quê? – Que era muito amor para uma mulher só, que ela não
era o que eu idealizava.
– Você
falou isso? – Não, pelo contrário, eu falei que ela era muito melhor do que eu
idealizava.
– Toda
mulher deseja alguém por perto, romântico, com olhos somente para ela, não?
– Ela
não gostava. Chamava de carência. Insistia para me controlar, amarrar as mãos,
amordaçar a boca, não ficar em cima, dar espaço.
– Não
tem cabimento... Tá brincando?
– Tem,
sim. Amor demais. Eu lavava a louça antes dela acordar, eu a levava para o
trabalho, eu estava à disposição de seus chamados.
– Ela
ainda reclamava? – Sim. Amor demais. Reclamava que não aguentava tanta pressão,
que não conseguia respirar.
– Pressão
de quê? – Do meu amor demais.
– O
que você pensava da situação?
– Nada.
Estava feliz amando demais. Escrevia cartas e bilhetes, fazia declarações públicas,
mandava flores, banquei serenata na janela, coloquei outdoor.
– Nossa,
que estranho! – Não é estranho, ela reclamava do amor demais. Ela se separou
pelo amor demais. É muita expectativa.
– Era
um conto de fadas, deveria ser bom.
– Mas
faltava a bruxa, a maçã envenenada, o lobo. – Por que você amou demais?
– Eu
descobri o infinito no primeiro dia, eu a pedi em namoro no segundo dia, eu
ofereci casamento na primeira semana, abri a casa no primeiro mês. Enlouqueci
partilhando minhas razões de viver.
– Tudo
foi rápido?
– Amor
demais. Eu dei um solitário e pretendia casar na igreja. Eu queria ter um
filho, já tinha até escolhido o nome. Eu dava presentes fora de hora, levava
para jantar, não deixava qualquer pedido em casa. Ela parecia contente até que
um dia...
– Um
dia? – Disse para mim: chega de amor!
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