24 de agosto de 2013 | N° 17532
CLÁUDIA LAITANO
Esnobados
Nem todo mundo passa pela experiência de ser seriamente
humilhado, mas é quase impossível atravessar a vida sem nunca ter se sentido
esnobado. Esnobar é uma forma cotidiana e aparentemente inocente de humilhar.
Não exige grandes gestos ou palavras duras, basta um olhar – ou não olhar.
Há esnobismos de todos os tipos – culturais, sociais,
estéticos, geográficos – e ninguém está livre de esnobar ou de ser esnobado.
Pense um instante e é possível que você recorde todas as situações em que se
sentiu diminuído, mas talvez tenha um certo trabalho para lembrar quando tratou
alguém de forma arrogante. (A memória é muito seletiva nesses casos. )
Você pode não ter nenhuma intenção de humilhar a moça da
limpeza do seu prédio, mas se passa por ela sem honrá-la com um bom-dia ou um
com-licença está praticando uma modalidade muito comum de esnobismo funcional:
a ocupação define se a pessoa é merecedora ou não da sua boa educação.
Entre as muitas formas conhecidas de esnobismo, uma das mais
difundidas é a do setor de serviços e comércio. Bancos, salões de beleza, lojas
metidas a grã-finas, é vasto o mercado de esnobação de clientes que não parecem
se encaixar no perfil desejado.
Em uma cena já clássica do filme Uma Linda Mulher, Julia
Roberts é esnobada por uma balconista porque não está bem vestida. Instantes
depois, acompanhada de Richard Gere e do saldo ilimitado de um cartão de
crédito, ela faz questão de voltar à loja apenas para esnobar a vendedora. De
leve.
Há alguns dias, uma das mulheres mais poderosas do mundo veio
a público contar que também foi esnobada. Oprah Winfrey entrou em uma loja na
Suíça e perguntou o preço de uma bolsa. A vendedora não apenas não reconheceu a
apresentadora como descartou a potencial cliente sugerindo que ela não teria
cacife para pagar os US$ 38 mil do mimo. Oprah, uma das poucas pessoas que
poderia comprar uma bolsa que custa um apartamento, deu uma entrevista a Larry
King dias depois afirmando que teria sido vítima de racismo.
Alguns acharam que ela foi tratada dessa forma por ser gordinha,
já que mulheres acima do peso costumam ser esnobadas em lojas chiques tanto
quanto mulheres que parecem não ter dinheiro.
A loja garante que tudo foi apenas um problema de
comunicação. Seja como for, só ficamos sabendo do episódio porque Oprah é famosa.
Todos os dias, em todas as lojas do planeta, e fora delas também, alguém está
sendo julgado pela cor, pelas roupas, pela forma do corpo. Parece banal e
indolor – até o dia em que acontece com a gente.
Observador incansável dos hábitos da aristocracia, Proust
notou que, em uma recepção cheia de pessoas ricas e poderosas, nada demonstra
melhor a estirpe de alguém do que a deferência com que trata os que têm menos
dinheiro ou poder. Ou seja: chique mesmo é ser gentil e generoso. O resto é tão
brega quanto gastar US$ 32 mil com uma bolsa.
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