19
de agosto de 2013 | N° 17527
LIBERATO
VIEIRA DA CUNHA
A felicidade tem preço?
Capturei
ontem ao acaso, na galáxia de signos da internet, o singular resultado de uma
pesquisa feita pelo Gallup. Esse grave instituto submeteu uma única pergunta a 400
mil americanos: o dinheiro compra a felicidade? Segundo os resultados,
analisados por dois eminentes professores de Princeton, a resposta é sim, desde
que você ganhe US$ 85 mil por ano, ou, traduzido em brasileiro, algo mais do
que uns 190 mil reais, no instável câmbio em cartaz.
Me
permito pôr a colher torta no assunto para concluir que US$ 85 mil não são
suficientes para garantir a felicidade. Mister é que, além das notas verdes,
hoje tão anêmicas em relação ao euro, você seja agraciado com uma dose adequada
de serenidade.
É preciso
que seja abençoado com uma razoável porção de paz, bem posicionada entre você e
a sua circunstância.
Não
desaconselharia uma qualidade única: isso que até na Bíblia chamam de amor por
você mesmo. Não deixaria de lado o apreço aos amigos, aqueles com que você precisa
contar nas horas sombrias, mas especialmente nos momentos alegres.
Não
esqueceria de recomendar que você vivesse em estado de paixão por suas amadas
passadas e presentes e, particularmente, por aquelas com quem ainda sonha em
algum instante do futuro do condicional.
Não
desdenharia uma sadia inclinação por sua profissão ou seu ofício, pois somos o
que nos dá prazer de ser. Amaria meus filhos e meus netos com essa devoção de
que apenas a partilha é capaz.
Acalentaria
meus sonhos, mesmo os impossíveis, com essa confiança que só a ousadia nos dá. Colecionaria
os acordes de todos os grandes músicos, as frases de todos os melhores
escritores, os tons e as cores de todos os maiores pintores.
Reinauguraria,
nos momentos quietos de cada noite deste inverno, ouvindo Bach, Beethoven,
Brahms, os melhores segundos do pretérito mais que perfeito.
Viveria
em uma casa que fosse o retrato sem retoque de todos os meus anseios, e ainda
refletisse minha inteira fisionomia.
Viajaria
por céus distantes, para que, libertos, meu coração e minha alma aceitassem o
convite do desconhecido.
E a
cada dia e a cada hora agradeceria a mim mesmo pelo simples ato de estar vivo.
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