25
de agosto de 2013 | N° 17533
MARTHA
MEDEIROS
O que você vai ser quando crescer?
Numa
sociedade competitiva como a de hoje, não é de estranhar que o fator mais
importante da vida seja o trabalho. Ele consome nosso tempo e nossas preocupações:
temos que ganhar dinheiro, temos que ser os melhores, temos que superar a
concorrência e só então... Só então o quê? Morrer?
Crianças
mal atingem os cinco anos e já começam a ser sabatinadas sobre o futuro: “O que
você vai ser quando crescer?”. E as coitadinhas entram no jogo. Em vez de
responderem que pretendem ser surfistas, caroneiras, participantes de um coro
ou defensoras da natureza, respondem com a primeira profissão que lhes vêm à cabeça:
veterinário, professor, bombeiro. Na verdade, elas não têm a menor ideia do que
querem ser – nem os vestibulandos têm – mas já intuem que sua identidade estará
atrelada ao que fizerem para se sustentar.
Tanto
isso é verdade que os anjinhos crescem, estudam, começam a trabalhar e um dia
estão numa festa e são apresentados a alguém. Trocam um aperto de mãos e a
primeira pergunta entre os dois desconhecidos será: “O que você faz?”.
E não
se ouvirá como resposta “eu levo meus filhos ao estádio, eu participo de rallys
aos domingos, eu sou campeão em palavras-cruzadas, eu saio com meu cachorro
todo final de tarde, eu vou ao cinema às quintas-feiras, eu namoro a mulher
mais incrível do mundo, eu corro maratonas”.
Você
responderá que é professor, veterinário, bombeiro. Ou vão achar que você não
tem uma vida.
Mas
você também. Só que ela ocupa um lugar muito menor do que deveria na sua lista
de prioridades. Você passa um terço do dia trabalhando, e outro terço pensando
na reunião de amanhã cedo, nas tarefas que ainda não foram concluídas, no
cliente que está ameaçando deixar a empresa, no funcionário que não está correspondendo.
No terceiro terço você dorme. Mal.
Quem
está viciado nesse esquema pode encontrar dificuldade em relaxar. Mas para quem
está entrando agora no mercado de trabalho, vale adotar desde cedo uma postura
mais equilibrada entre vida pessoal e profissional, começando por repensar essa
questão da identidade: você não é o que você faz para ganhar dinheiro, você é o
que você faz para ser feliz. As horas de lazer também são produtivas, uma vez
que elas abastecem nossa imaginação, sonhos, ideias, reflexões, e sem isso, aí
é que não se cria identidade alguma, viramos apenas um número a mais nas estatísticas
de mão-de-obra.
Não
sei o que o Brasil pretende ser quando crescer, mas tomara que ele cresça com
pessoas que, ao chegarem perto da morte, não tenham tantos arrependimentos pelo
que deixaram de fazer quando ainda tinham tempo para fazê-las.
Nenhum comentário:
Postar um comentário