26
de agosto de 2013 | N° 17534
ARTIGOS
- Paulo Brossard*
Sobra verbo, falta
verba
Quando
a crise atual mostrou suas unhas nos Estados Unidos e na Europa do euro, não
faltaram ponderações de respeitáveis autoridades da área acerca da gravidade do
problema, sendo que uma delas não hesitou em comparar o caso com o flagelo de
1929/1930.
As
nossas autoridades, no entanto, “cantavam de galo” diante da ameaça. Lembro que
a senhora presidente blasonava ao dizer que o Brasil, que tirara de ouvido a
crise anterior, a crise anunciada não lhe faria mossa, pois estava 300% mais
fortalecido para enfrentá-la, as reservas externas eram fartas e assim por
diante; ora, qualquer pessoa relativamente informada sabe que esses fenômenos
vulcânicos podem gerar os mais contundentes efeitos de uma hora para outra,
tomando as feições mais inesperadas; ora, ao ameaçar os fatos com gabolices é
deixar à calva sua inépcia.
Em
verdade, os dias passam e a nossa situação se mostra frágil, seja por causas
internas, quer por motivações externas, chegando a não ter condições de
concorrer no Exterior pelo preço dos nossos produtos em casa, dado o preço dos
importados. E agora, ao mesmo tempo em que o governo anda perdendo o fôlego
para conter a cotação do dólar, respira aliviado porque a elevação lhe é favorável
para aumentar a exportação. A notoriedade dessas realidades dispensa a
insistência no assunto. Mas, dia a dia, vêm pipocando notícias várias,
indicativos da mesma realidade.
Ao
correr os olhos, vejo que o desempenho fraco da economia brasileira atingiu o
mercado de trabalho nas regiões metropolitanas, com exceção de Belém e
Fortaleza. Outrossim, em 10 anos, foi o pior mês de julho em matéria de criação
de empregos e o saldo de 41,5 vagas formais representa queda de 77%, ante ao
mesmo mês de 2012. Lembro que até ontem se salientava que, a despeito da
generalidade das dificuldades experimentadas o emprego se mantinha; ao que
parece, o desemprego começa a dar sinais.
Um
dia antes, a notícia era relativa às contas externas que fecharam o primeiro
semestre com um rombo de 72% maior do que no mesmo período do ano anterior.
“Com um desempenho fraco da balança comercial, o déficit externo chegou a US$
42,48 bilhões”. Para analistas do mercado, “o cenário é preocupante”, embora em
junho tendo havido alguma melhora.
Segundo
o Banco Central, de junho de 2012 para junho de 2013 a dívida externa aumentou
de US$ 302 bilhões para US$ 321 bilhões e seus encargos cresceram de US$ 42
bilhões para US$ 60 bilhões; as exportações caíram de US$ 255 bilhões para US$
239 bilhões, as reservas em dólar do Banco Central pararam de crescer, de US$
373 bilhões para US$ 371 bilhões e o PIB em dólares encolheu de US$ 2,37
trilhões para US$ 2,29 trilhões. Enfim, os índices que a confiança de
consumidores e empresários na economia caíram aos níveis registrados em 2009,
auge de crise global.
Em
síntese, um a um, esses dados não serão catastróficos, mas não são bons, e o
conjunto deles não é nada tranquilizador. De resto, não é incomum que, de
repente, os fatos entrem em desvarios, razão por que um pouco de cuidado não
faria mal a ninguém. Eles já não ajudam uma candidata à reeleição e, se um novo
tremor de terra viesse a ocorrer, poderia ser desastroso para ela. No entanto,
a senhora presidente parece estar mais empolgada com sua campanha do que com a
nação e as instituições.
*JURISTA,
MINISTRO APOSENTADO DO STF
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