21
de agosto de 2013 | N° 17529
MARTHA MEDEIROS
Banksy
e os black blocs
Por
mais justas que sejam as reivindicações por melhoras no país, fica difícil
apoiar black blocs, que se manifestam através da violência e da depredação, sem
estimular nenhuma ideia original, nenhuma consciência – apenas promovem pânico
e prejuízos à cidade.
Para
encerrar a série de crônicas inspiradas em Londres, me parece oportuno lembrar
de Banksy, grafiteiro inglês que há uns 10 anos preenche muros, paredes, pontes
e estações de metrô com grafites ora engraçados, ora chocantes. Agindo de
madrugada, disfarçando-se com nariz postiço e óculos escuros, ele faz suas
interferências urbanas de uma forma extremamente audaciosa – introduz objetos
em monumentos públicos, instala avisos surpreendentes em meio aos lagos dos
parques e até já conseguiu colar obras suas nas paredes dos museus mais
respeitados da Inglaterra.
Às
vezes, leva uma ou duas horas para que descubram e apaguem seus grafites ou
retirem das paredes suas marcas de protesto, mas já conseguiu que levasse dias
e até meses antes de ter sua arte recolhida. E detalhe: até hoje, ninguém sabe
quem ele é.
Se a
polícia não gosta nada do moço, a população rendeu-se a esse transgressor
misterioso, e o inusitado aconteceu: hoje suas obras valem milhares de libras e
estabelecimentos comerciais rezam para ter suas paredes pichadas por Banksy.
Ele
defende o grafite como uma arte honesta e popular. Diz que é uma resposta aos
milhares de anúncios publicitários estampados em painéis gigantescos por toda a
cidade, inclusive nas laterais dos ônibus: por que todos aceitam que a cidade
se desfigure com publicidade e não com o grafite artístico? Ele mesmo responde:
as pessoas acham que só o que gera lucro tem o direito de existir.
Banksy
apronta e faz pensar. Esconde-se porque o grafite ainda é considerado
subversivo, e também para denunciar essa sociedade que valoriza mais o artista
do que sua arte: hoje estão todos mais interessados em saber que rosto têm,
como se vestem, com quem namoram as grandes estrelas, em vez de focarem apenas
no trabalho que fazem.
Pois
através do mistério, Banksy conseguiu total visibilidade para o que faz e ficou
famoso sem aparecer. Há quem diga que ele não existe, que as obras são criações
coletivas de um grupo, que o Dalai Lama é seu fã, que ele foi expulso da escola
por causa de uma briga em que não teve culpa, por isso sua obsessão por justiça
social. Rumores que só reforçam o mito.
Dilapidar
patrimônio público e placas de sinalização é crime, bandidagem. Já Banksy não
depreda nem picha imundícies: ele tem um propósito e uma estética, por isso se
diferencia. Inverte nosso senso de ordem, denuncia hipocrisias e surpreende com
seu espírito rebelde e um talento gráfico inquestionável. Diz que gostaria de
ter permissão para fazer o que faz, mas, não tendo, vai em frente contando com
o perdão da cidade. Tem conseguido. Demonstrou que é possível protestar com
inteligência e pacificamente.
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