21
de agosto de 2013 | N° 17529
PAULO
SANT’ANA
O invejoso e o invejado
A
pessoa que é boa e reta tem um consolo no Velho Testamento: “Os maus por si se
destroem”.
É o único
e definitivo consolo dos bons, os maus se destroem entre si.
O
homem mau vive distribuindo maldade entre todos, mas chega uma dia em que
fatalmente ele se defrontará com outro homem mau.
E um
dos dois destruirá o outro.
E o
mau que restar desse embate lá adiante se encontrará com outro mau e será destruído.
O
destino dos maus, portanto, estará traçado: será destruído por outro mau.
Vira
e mexe, o mau topa com outro mau. Pode não ser destruído no primeiro embate,
mas outro dia vai topar com mais um mau e será destruído. Isso é mais certo do
que o sol nascendo todos os dias.
Dá para
dizer que homem mau é sinônimo de homem invejoso.
O
invejoso por si só é aquele que se declara inferior ao invejado.
Por
sinal, se o invejoso não fosse inferior ao invejado, não o invejaria: só o
inveja porque é inferior.
Quando
o invejoso inveja o invejado, nada mais está fazendo do que confessar que é inferior
a ele.
Por
sinal, o que caracteriza os homens maus é justamente isso: agridem por não
suportar serem inferiores aos outros.
E o
alvo dos invejosos em sua maldade é exatamente o invejado.
Andei
especulando esses dias sobre o embate entre um mau e um invejoso. Eles não se
falam, mas se odeiam. De vez em quando, o invejoso solta uma farpa para cima do
mau, mas de forma sibilina, para que o mau perceba de fininho, o invejoso usa
da covardia do anonimato ou da agressão subjacente.
Tenho
assistido a esse surdo e feroz combate entre o invejoso e o mau, é um conflito
ciclópico. E, enquanto os dois – isso é interessantíssimo – travam esse
combate, vão então se destruindo.
O
embate entre o invejoso e o mau é ciclópico.
Ao
fim, restarão os dois vencidos.
É infalível
e óbvio: o invejoso escolhe sempre alguém superior a ele para invejar.
E
sua inveja vai devorando as próprias entranhas. A inveja do invejoso – sempre
silenciosa – por não ter nenhum efeito sobre o invejado, a não ser a incomodação
rotineira que causa a quem sofre inveja, vai roendo os alicerces do próprio
invejoso, até destruí-lo.
Alguém
já disse que o invejoso, quando inveja o invejado, nada mais faz do que
confessar sua inferioridade.
Se não
fosse inferior ao invejado, o invejoso não o invejaria.
Por
sinal, a inveja em si só tem um ponto elogiável: afinal, quem inveja reúne forças
para tentar aproximar-se em mérito do invejado.
Mas
acontece que muitas vezes o invejoso não se contenta em invejar em silêncio,
parte para a agressão ao invejado.
E o
invejoso, quando é agressivo, se constitui na mais repelente condição humana,
ele não suporta o êxito do invejado. E tenta por todas as formas
descaracterizar o êxito do invejado.
Essa
dor que sofre o invejoso é a mais torturante dor humana.
Se o
invejado for também mau, ficará deliciado com a dor do invejoso.
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