17
de agosto de 2013 | N° 17525
ARTIGOS
- Luiz Fernando Oderich*
A crônica de um
fracasso
Saiu
o relatório Mapa da Violência 2013, das mortes matadas por armas de fogo na
última década. No período, mudamos a lei do porte de armas, fizemos um
plebiscito, muito debate, muita propaganda, muito dinheiro público foi gasto na
compra de armas da população e a que ponto se chegou? A lugar nenhum!
No
início do milênio, começamos com cerca de 34.985 mortes por ano, e terminamos
2010 com 38.892. Em termos percentuais sobre a população de 100 mil habitantes,
que é a forma usual de medir esses dados, passamos de 20,6 casos para 20,4. Mudança
insignificante.
Pessoalmente
não gosto de armas, mas sempre considerei essa alternativa inútil, pois o que
todo mundo imaginava acabou acontecendo. Quem entregou as armas? Quem não
precisaria tê-lo feito. As grandes quadrilhas agora, como antes, dispõem de
armas de grosso calibre, granadas, explosivos etc.
O
Rio Grande do Sul teve uma melhora aparente. Ocupávamos a 11ª posição e hoje
passamos ao 17º lugar. Aparente sim, pois não houve qualquer avanço.
Permanecemos com o mesmo número de casos anuais – 1,7 mil em termos absolutos,
e exatamente o mesmo percentual: 16,3 mortes por 100 mil habitantes. Todo
esforço, inclusive de nossa ONG, foi em vão.
Mas
o relatório, ao mesmo tempo, enche-nos de esperança. São Paulo, o Estado mais
populoso do país, teve a melhoria mais expressiva. Passou de 10,6 mil casos por
ano, para 3,8 mil. Uma espetacular melhora de 67,5%. Lá a segurança pública foi
tratada pelos métodos tradicionais. Nada de Territórios da Paz. Aumento de
efetivo, qualificação da investigação criminal e construção de vagas
prisionais.
Agora,
o estarrecedor mesmo é a comparação com as guerras no mundo. De 2004 a 2007
houve 62 conflitos. Lembramo-nos apenas daqueles que aparecem na mídia, como o
Iraque e o Afeganistão, mas houve outros na Somália, no Nepal, no Congo etc.
Todos eles somados produziram 208.349 óbitos. Nesses mesmos quatro anos, o
pacífico Brasil, em paz, chegou quase à mesma quantia: 147.373 óbitos.
Torço
para que esses dados abram as cabeças das pessoas que acreditam em tratar
bandido a pão de ló, em não punir, em abusar dos indultos de Natal. Rezo para
que comecem a arrefecer em suas crenças e a dar-se conta de que quem entende de
segurança é a Polícia Civil, a Polícia Militar, os agentes penitenciários, os
promotores e os juízes. São Paulo provou que o bom e velho feijão com arroz
pode funcionar.
*PRESIDENTE
E FUNDADOR DA ONG BRASIL SEM GRADES
Nenhum comentário:
Postar um comentário