31
de agosto de 2013 | N° 17539
EDITORIAIS
ZH
PELO VOTO ÀS
CLARAS
Confrontado
com o repúdio generalizado à manutenção pela Câmara do mandato do deputado
Natan Donadon (sem partido-RO), o Congresso volta a prometer a extinção do voto
secreto, prevista para as próximas duas semanas. É mais um dos muitos
compromissos assumidos pelos parlamentares nos últimos anos de acabar com essa
excrescência, que só tem sentido em situações muito específicas.
Já
foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado e aguarda exame
em plenário a proposta do senador Paulo Paim (PT) que reduz a possibilidade de
parlamentares tomarem decisões em votações secretas no Congresso.
A
proposição do parlamentar extingue o escrutínio secreto para indicações de
autoridades e chefes de missões diplomáticas, exoneração do procurador-geral da
República antes do término do mandato, cassação de mandato parlamentar e
apreciação de vetos presidenciais. O texto deixa de fora apenas o voto secreto
para eleições de integrantes das Mesas do Senado e da Câmara, cuja extinção é
objeto de outro projeto.
Voto
secreto, nos moldes do que existe hoje no parlamento brasileiro, só serve para
acobertar quem não tem coragem de assumir perante os eleitores as consequências
de atos como a preservação do mandato do deputado “reeducando” (na expressão do
ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello).
O
voto secreto tinha por objetivo preservar a liberdade de consciência dos
parlamentares em decisões nas quais uma tomada de posição pública poderia
acarretar pressões de um ou outro tipo. Na prática, porém, as votações protegidas
por sigilo são as que envolvem interesses corporativos.
O
sistema político brasileiro é particularmente eficaz quando se trata de
distorcer a finalidade de um instrumento democrático para torná-lo ferramenta
do avesso da democracia. Tome-se, por exemplo, o caso das medidas provisórias,
inspiradas no Direito italiano, no qual servem expressamente para dar ao
presidente o poder de legislar de forma emergencial, atendidos os pressupostos
de relevância e urgência. No Brasil, a medida provisória converteu-se em
verdadeira mania presidencial, servindo até mesmo para criação e majoração de
tributos.
O
país aguarda para breve o fim do julgamento dos réus do mensalão. É óbvio que,
nessas circunstâncias, a decisão de acabar com o voto secreto no Congresso só ocorrerá
se a sociedade pressionar nesse sentido. Não cabe dúvida de que os cidadãos
comuns são os principais interessados em jogar luz sobre esses e outros
processos legislativos.
Trata-se,
em primeiro lugar, de uma questão de transparência no exercício da atividade
legislativa, e, em segundo, de matéria concernente ao que os americanos chamam
de accountability, termo que equivale à faculdade ou efeito de prestar contas a
órgãos controladores, aos representados ou à própria opinião pública.
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