sexta-feira, 30 de agosto de 2013


30 de agosto de 2013 | N° 17538
PAULO SANT’ANA

Gemada e clara em neve

Abriu o sol ontem pela manhã e ofereceu-se a todos em torno dos recintos da exposição de Esteio, daí que se realizou ali na Casa da RBS o Sala de Redação, no qual discutimos de tudo, inclusive futebol.

Depois fui comer com o Pedro Ernesto no Hereford by Régis. O entrecot e a picanha na brasa estavam divinos, depois encomendei uma sobremesa espetacular, que para mim consiste em claras de ovo em neve e gemada bem batida, ao Pedro Ernesto foram destinados mil-folhas de doce de leite e de morango.

A gente se encontra no parque de Esteio com as origens. Ali estão os animais vacuns, os ovinos, acho que os porcinos, e confesso que não me agradam os exercícios que fazem os ginetes com os cavalos. Não gosto de nenhuma prova que implique sofrimento nos animais e noto naqueles cavaleiros alguns que se deliciam com provas que supliciam os cavalos.

Mas, enfim, a nossa tradição muitas vezes carrega esses inconvenientes. Estava bela a manhã, a gauchada folgazã se espalhava pelo parque e foi um dia de sólida diversão.

É impressionante como há pulmões que resistem à nicotina e ao alcatrão dos cigarros durante muitos e muitos anos. E há pulmões cujos alvéolos e bronquíolos não resistem aos golpes incisivos das fumaças e fazem soçobrar os fumantes.

Assim como há fígados de alcoolistas que resistem às cargas etílicas dos bebedores de álcool, enquanto outros soçobram levando até a morte certos bêbados incorrigíveis.

Os vícios, portanto, são veículos de destruição, além de obviamente servirem de alavancas propulsoras de prazeres. Teoricamente, o prazer carrega ameaça de destruição da saúde. No caso das drogas mais pesadas, destroçamento da saúde psíquica.

Os viciados são corajosos, trocam o prazer pelo risco sério e grave à saúde. Mas aí é que eu encasqueto: todo prazer hedônico consiste em risco à saúde? O prazer originado nos produtos químicos ingeridos e em algumas ervas estupefacientes sem dúvida causam danos à saúde física e psíquica.

Então acontece que os viciados correm um risco calculado, esperam largar ali adiante o vício e se livrarem desse risco terrível à saúde.

O problema é que o viciado, não raro, afunda tanto no vício, que, quando quiser recuar, não haverá mais tempo de recuperação. É então que se verifica um contrato de risco entre o prazer e a resistência física ao dano causado pela droga.

No início, é só a intenção do novel viciado de drogar-se por curto tempo, depois promete para si mesmo largar da droga.  Mas, então, surge como um dragão a dependência.

E quem atinge os domínios da dependência está quase que totalmente ferrado. Haverá um dia em que o homem descobrirá um prazer entre as drogas, caso do fumo, que não lhe cause qualquer dano físico.


Mas, nesse caso, então não seria o mundo que se vê ao nosso redor oferecido aos viciados, mas o paraíso.

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