29
de agosto de 2013 | N° 17537
ARTIGOS
- Marcelo Bertoluci*
Agressão ao pacto
federativo
Oengessamento
dos Estados, diante das enormes e impagáveis dívidas com a União, mobilizou, no
dia 15 de maio, na sede do Conselho Federal da OAB, em Brasília, mais de 120
entidades da sociedade civil organizada. A força do ato ficou demonstrada na
participação de representantes da Advocacia, da Magistratura, do Ministério
Público, dos poderes Judiciário, Legislativo e Executivo e associações de
classes.
Mais
uma vez, ficou evidenciado que esse não é um problema do Rio Grande do Sul,
mas, sim, da maioria dos Estados da República Federativa do Brasil. Aliás, o
nome oficial da nação não vem fazendo jus ao que acontece na realidade. Existe,
há tempos, uma verdadeira agressão ao pacto federativo, uma vez que a
transferência de receitas entre as 27 unidades da federação e os mais de 5 mil
municípios não é igualitária e, muito menos, proporcional. Segundo o orçamento
da União executado em 2012, apenas 10,21% das despesas totais foram repartidas
entre os entes federados.
A
dívida gaúcha foi refinanciada em 1998, a partir do empréstimo de R$ 10 bilhões
ao Estado. Nesse período, o passivo foi sendo quitado, mas ainda assim aumentou
de forma incontrolável, tanto que, em 2011, mesmo com R$ 15 bilhões em pagamentos,
o saldo devedor já ultrapassava R$ 40 bilhões.
O
principal motivo para esse crescimento assustador foram os indexadores adotados
pela União, basea-dos em índices de correção monetária completamente fora da
realidade do cenário financeiro atual e que retiram aproximadamente 13% do
orçamento dos Estados. Nossa preocupação resultou no ajuizamento, pela OAB/RS,
em novembro de 2012, da Ação Civil Originária nº 2.059, no STF, para a
renegociação da dívida contraída pelo RS junto à União.
E o
que o cidadão tem a ver com esse problema? Saúde, educação, segurança, acesso
pleno à Justiça e pagamento de precatórios são apenas alguns dos direitos
fundamentais da sociedade que não são cumpridos na sua integralidade devido a
essa dívida.
Por
consequência, o maior prejudicado continua sendo o cidadão brasileiro, que,
individualmente em 2013, já pagou quase R$ 2,7 mil em tributos, totalizando
nacionalmente mais de R$ 514 bilhões, segundo o “impostômetro” de São Paulo.
Por sua vez, o retorno desses impostos segue sendo o pior entre 30 países,
conforme o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário.
Buscando
modificar essa absurda realidade, aprovamos no ato da dívida pública, em
Brasília, o Manifesto pela Revisão da Dívida dos Estados e Municípios, que
propõe recalcular os passivos do Estado com a União, levando em consideração
três fatores fundamentais: retroativamente à data da assinatura dos contratos
dos valores devidos à União, limitados ao IPCA e sem a cobrança de juros;
aplicar sobre os passivos remanescentes o IPCA e sem os juros; e limitar a 6% o
comprometimento da receita líquida real para o pagamento das prestações
futuras.
*PRESIDENTE
DA OAB/RS
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