25
de agosto de 2013 | N° 17533
O
CÓDIGO DAVID | DAVID COIMBRA
A palavra
proibida
Tenho
um amigo que não fala a palavra azar. Diz que dá... Bom, ele não fala.
Só
descobri essa sua idiossincrasia quando um dia ele me disse:
–
Não falo aquela palavra.
–
Que palavra?
–
Aquela.
–
Que palavra, pô?
–
Aquela ruim.
–
Qual??? Dá um sinônimo.
–
Falta de sorte.
–
Azar?
–
Não diz!!!
A
fama de agosto
Agosto
tem fama de mês aziago. As pessoas não gostam de agosto. Suspeito que essa
implicância tenha começado com a Noite de São Bartolomeu, quando protestantes
foram massacrados em Paris às vésperas do casamento da Rainha Margot.
Alexandre
Dumas, o pai, escreveu um belo livro sobre a Rainha Margot, que depois virou um
belo filme com a ainda mais bela Isabelle Adjani, mas acho que já escrevi sobre
todas essas belezas.
O
fato é que a Noite de São Bartolomeu foi uma noite de agosto, o império asteca
caiu em agosto, Rodolfo Valentino morreu em agosto, Getúlio Vargas e Marilyn
Monroe suicidaram-se em agosto, Nixon e Jânio renunciaram em agosto e Juscelino
Kubitschek sofreu o acidente que o matou em agosto. Donde, a péssima imagem de
agosto entre os homens do povo.
Mas
eu não acredito nisso. Coisas ótimas já me aconteceram em agosto e espero que
continuem acontecendo. Não, não tenho medo de agosto. Agosto é nosso amiguinho.
A
urucubaca do Dudu
Existem
realmente, a sorte e o azar? Acho que não, mas algumas pessoas provam o
contrário. Uma dessas pessoas foi o gaúcho Hermes da Fonseca, marechal do
Exército e presidente da República nos albores do século 20. Tinha fama de
azarado, o marechal Hermes. O povo dizia que ele tinha “caiporismo”. Chamavam-no,
com irreverência carioca, de “Dudu”.
Realmente,
“coisas” aconteciam com marechal. Em 1909, o velho presidente Afonso Pena
escolheu o ministro David Campista como seu sucessor. Hermes queria ser ele o
candidato. Fulo por ter sido preterido, irrompeu no gabinete do presidente a
passo militar e jogou a espada em cima da mesa dele. Afonso Pena levou o maior
susto, sentiu-se mal e saiu carregado da sala. Morreu um mês depois.
No
ano seguinte, já empossado presidente, Dudu preparou uma recepção para o rei
português Dom Manuel II, que visitava o Brasil. Quando estava fazendo o brinde
em homenagem ao soberano, um mensageiro entrou correndo no salão e avisou que,
em Portugal, a monarquia acabara de ser derrubada.
Tempos
depois, o governo Dudu contraiu um empréstimo vultoso junto a um banco inglês.
Esperto, o presidente determinou que cerca de metade do valor fosse depositado
em um banco russo, que estava pagando juros altos. Bem. Em 1917, a revolução
bolchevique encampou o banco russo.
Até
a mulher do marechal, a bela e talentosa Nair de Tefé, foi vítima dos maus
fluidos de Dudu. Um dia, quando ele já tinha deixado o governo, os dois foram
passear em uma fazenda de amigos. O marechal estava numa charrete e Nair num
carro aberto. Quando o carro passou pela charrete, Nair olhou para o marido e
achou-o triste. Quis consolá-lo, desceu do carro e foi até a charrete. No
momento em que ela foi subir, o cavalo disparou. Nair caiu, machucou-se e ficou
o resto da vida com uma perna mais curta do que a outra.
Por
todas essas, a súcia, a malta, a ralé, a arraia miúda cantava para o
presidente:
“Ai,
Filomena, se eu fosse tu
Tirava
a urucubaca da cabeça do Dudu”.
Mas
isso é a súcia, a malta, a ralé, a arraia miúda, que acredita em sorte e azar.
Eu, não. Por isso, digo sempre e digo de novo: agosto é nosso amiguinho.
Frase
No
mundo não tem boa sorte senão quem teve por boa a que tem
CAMÕES,
sobre a sorte
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