ELIANE
CANTANHÊDE
Suicídio
BRASÍLIA
- Ninguém trata tão mal os políticos quanto os próprios políticos. Nem mesmo o
mais ácido crítico teria tanta eficácia quanto Suas Excelências ao corroer a
imagem de deputados, de senadores e, pior, do Congresso Nacional.
Há inúmeros
adjetivos, além de expressões impublicáveis, para definir a decisão de quarta-feira
à noite, absolvendo o presidiário Natan Donadon da cassação de mandato, mas um
só basta: é inacreditável.
Os
parlamentares que votaram a favor de Donadon, abstiveram-se ou ausentaram-se
sem bons motivos deixam uma dúvida. Se eles são colegas de Donadon na corporação
Congresso ou deveriam ser na corporação Papuda, onde o parlamentar-presidiário
está preso, com uma condenação de mais de 13 anos por formação de quadrilha e
desvio de dinheiro público, o popular roubo.
Para
tentar contornar o clima de enterro da instituição, o presidente da Câmara,
Henrique Eduardo Alves, saca uma solução heterodoxa e sem respaldo no
regimento, declarando o afastamento de Donadon e a convocação de seu suplente,
Amir Lando. Está criada a seguinte situação: Donadon não é deputado, mas é;
Lando é deputado, mas não é.
E,
numa tentativa patética de reduzir as labaredas na opinião pública, o
presidente do Senado, Renan Calheiros, desfralda uma "saída célere" anunciando
a votação da PEC 18, que determina a perda automática de mandato, sem votação
do Legislativo, em caso de condenação por improbidade administrativa e crime
contra a administração pública.
Ah! Todos,
claro, berram pelos salões, corredores e comissões contra o instituto do voto
secreto para a cassação de parlamentares. Quem quiser se igualar a condenados,
que vote pelo menos às claras.
Agora,
porém, tudo isso é secundário, porque Inês é morta e Donadon está bem vivo. Mas,
se alguém acha que isso pode ajudar Genoino, João Paulo Cunha e Costa Neto, está
muito enganado. Ou será que não?
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