18
de agosto de 2013 | N° 17526
MARTHA
MEDEIROS
Em que planeta a gente
vive?
Tem pessoas que vão a Londres só para fazer um tour
pelas suas exposições: é uma cidade reconhecida pela oferta inesgotável de
museus e galerias, cujo acervo abrange todos os períodos, artistas e
tendências.
Enquanto
estive lá, um dos pontos altos da programação cultural era a mostra do holandês
Vermeer na National Gallery, mas o que me emocionou de forma profunda foi
Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro reconhecido mundialmente, que com seu
atual ensaio chamado Genesis, em exposição no Museu de História Natural, eleva
ainda mais o status da fotografia como obra de arte.
Sebastião
Salgado sempre esteve comprometido com o meio-ambiente e é inclusive diretor do
Instituto Terra, que promove ações ecológicas e de sustentabilidade desde muito
antes disso virar moda. Com o olhar afiado para enquadrar a relação entre os
homens e o planeta, dessa vez ele se dedicou prioritariamente a retratar a
natureza em sua forma mais primitiva, e o resultado é difícil de descrever em
palavras: o que vemos é uma beleza dramática que pulsa, tem vida, salta da
parede e nos arrebata como se estivéssemos vendo pela primeira vez algo que não
suspeitávamos existir.
E é
isso que intriga, pois sabemos que existem geleiras, rios, montanhas,
planícies, florestas, mas dessa vez elas nos são mostradas como se não
coabitássemos o mesmo planeta. E a verdade é que não coabitamos mesmo. Abra um
mapa: fazemos parte do todo. Mas é uma relação representada num papel, não de
fato.
O
fotógrafo viajou oito anos pelo globo captando imagens no Alaska, na Patagônia,
no Sudão, sempre extraindo a força do essencial e nos obrigando a reconhecer o
quanto vivemos apartados do planeta. Nós, moradores das cidades, estamos tão
engajados numa rotina de velocidade, asfalto, tecnologia, motores e
eletricidade que fundamos um planeta próprio, cujo nome “Terra” soa até
inapropriado.
Fazemos
excursões turísticas àquele outro planeta que fica fora dos limites urbanos, e
também o fotografamos para enfeitar nossos porta-retratos, mas Sebastião
Salgado faz bem mais do que isso: ele resgata a origem de tudo, aquilo que
nunca dependeu do progresso e que ainda resiste com magistral integridade. E
não bastasse essa manifestação de certa forma política, que nos conscientiza
sobre nosso afastamento das fontes naturais de sobrevivência, ele ainda o faz
com um senso estético arrebatador: suas fotos assemelham-se a uma ópera, não é
coisa para amadores. O homem é um gigante.
A
mesma mostra está em exposição no Rio de Janeiro e no início de setembro
aterrissará em São Paulo.
Se
estiver ao seu alcance, não perca. É uma rara oportunidade de estabelecer uma
conexão que tem caído a cada dia: a nossa com o planeta real.
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