sábado, 17 de agosto de 2013


18 de agosto de 2013 | N° 17526
MARTHA MEDEIROS

Em que planeta a gente vive?

Tem pessoas que vão a Londres só para fazer um tour pelas suas exposições: é uma cidade reconhecida pela oferta inesgotável de museus e galerias, cujo acervo abrange todos os períodos, artistas e tendências.

Enquanto estive lá, um dos pontos altos da programação cultural era a mostra do holandês Vermeer na National Gallery, mas o que me emocionou de forma profunda foi Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro reconhecido mundialmente, que com seu atual ensaio chamado Genesis, em exposição no Museu de História Natural, eleva ainda mais o status da fotografia como obra de arte.

Sebastião Salgado sempre esteve comprometido com o meio-ambiente e é inclusive diretor do Instituto Terra, que promove ações ecológicas e de sustentabilidade desde muito antes disso virar moda. Com o olhar afiado para enquadrar a relação entre os homens e o planeta, dessa vez ele se dedicou prioritariamente a retratar a natureza em sua forma mais primitiva, e o resultado é difícil de descrever em palavras: o que vemos é uma beleza dramática que pulsa, tem vida, salta da parede e nos arrebata como se estivéssemos vendo pela primeira vez algo que não suspeitávamos existir.

E é isso que intriga, pois sabemos que existem geleiras, rios, montanhas, planícies, florestas, mas dessa vez elas nos são mostradas como se não coabitássemos o mesmo planeta. E a verdade é que não coabitamos mesmo. Abra um mapa: fazemos parte do todo. Mas é uma relação representada num papel, não de fato.

O fotógrafo viajou oito anos pelo globo captando imagens no Alaska, na Patagônia, no Sudão, sempre extraindo a força do essencial e nos obrigando a reconhecer o quanto vivemos apartados do planeta. Nós, moradores das cidades, estamos tão engajados numa rotina de velocidade, asfalto, tecnologia, motores e eletricidade que fundamos um planeta próprio, cujo nome “Terra” soa até inapropriado.

Fazemos excursões turísticas àquele outro planeta que fica fora dos limites urbanos, e também o fotografamos para enfeitar nossos porta-retratos, mas Sebastião Salgado faz bem mais do que isso: ele resgata a origem de tudo, aquilo que nunca dependeu do progresso e que ainda resiste com magistral integridade. E não bastasse essa manifestação de certa forma política, que nos conscientiza sobre nosso afastamento das fontes naturais de sobrevivência, ele ainda o faz com um senso estético arrebatador: suas fotos assemelham-se a uma ópera, não é coisa para amadores. O homem é um gigante.

A mesma mostra está em exposição no Rio de Janeiro e no início de setembro aterrissará em São Paulo.


Se estiver ao seu alcance, não perca. É uma rara oportunidade de estabelecer uma conexão que tem caído a cada dia: a nossa com o planeta real.

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