25
de agosto de 2013 | N° 17533
PAULO
SANT’ANA
As cinco
canalhices
Confessei
publicamente em minha coluna de ontem que sinto ódio por alguém.
Suponho
que eu deva ter alguma vergonha em confessar meu ódio, afinal é um sentimento
tão mesquinho, que chega a ser abjeto.
Esse
sentimento, devo reconhecer, é uma substituição para o fato de que não pude
vingar-me de meu agressor. Como não consegui responder à altura da agressão,
visivelmente estou substituindo minha impotência pelo ódio.
Não
me venham dizer que o ódio só habita corações de pessoas insensíveis.
Já
expliquei que Jesus foi tomado de ira ao expulsar do templo os vendilhões.
Consolo-me
no fato de que, se até Jesus sentiu ódio e exasperação naquele episódio, de mim
não se deveria exigir reação menor.
Logo
eu, que sempre exaltei as virtudes do perdão, do esquecimento, da misericórdia,
da benevolência.
Eu
já descobri, no entanto, por que estou odiando tanto esse alguém. É que minha,
posso dizer, larga experiência com esse meu odiado me fez crer que ele era uma
pessoa superior, incapaz da mesquinhez brutal com que me brindou.
O
que me fez odiá-lo, portanto, foi a decepção por seu triste gesto, a sua reação
despropositada me apanhou à traição, não pensei que ele fosse capaz de tamanha
agressão.
O
mais impressionante é que esse ódio permanente e, para mim, infindável que
estou sentindo está se tornando um companheiro de todas as horas, uma bengala
que equilibra o meu estado emocional e cerebrino.
Não
existisse esse ódio, eu tenho certeza de que soçobraria.
Esse
ódio passou a ser para mim uma função vital. Sem ele, não poderia continuar
existindo, é o que suponho.
Cheguei
à conclusão de que entre as cinco grandes canalhices que sofri em toda a minha
vida, essa foi por mim considerada a pior pelo apreço que tive por esse quinto
canalha. Ele me conquistou pela amizade, pelo fino trato.
Pouco
estou ligando para as outras quatro canalhices. Foram praticadas por quatro
canalhas clássicos, de quem nada mais se podia esperar senão aquelas
patifarias.
Mas
este último não. Este ganhou a minha confiança e a minha admiração, o pulha por
vezes chegou a encantar-me.
Vejam
bem o declínio emocional que tive, do encantamento proporcionado pela amizade
até o ódio em face da canalhice.
Mas,
enfim, a gente está na Terra é também para vivenciar esses trambolhões.
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