segunda-feira, 19 de agosto de 2013


19 de agosto de 2013 | N° 17527
LETICIA WIERZCHOWSKI

“Tigres em Dia Vermelho”

Uma das melhores coisas da vida é pegar um livro e não ter mais vontade de largá-lo, quando a história entra em simbiose completa conosco a ponto de nos atrasarmos para um compromisso, perdidos entre as suas páginas. Foi o que me aconteceu lendo Tigres em Dia Vermelho, primeiro romance da jornalista americana Liza Klaussmann, publicado no Brasil pela Intrínseca.

A história toda gira em torno de duas primas muito unidas, Nick (bela, indomável, egoísta) e Helena (frágil, solitária, um projeto de alcóolatra). A prima rica e a prima pobre crescem juntas, passando seus verões na casa de praia construída pelo avô de ambas e herdada, tempos mais tarde, pela mãe de Nick – e depois pela própria Nick e seu marido.

É na Tiger House que as duas primas se encontram ao longo dos anos, e é também nesta mítica casa de veraneio que os seus filhos, os primos Daisy e Ed, se farão amigos – Ed, um rapazinho esquisito e sarcástico, e Daisy, uma menina doce, mas determinada, subjugada pela beleza de Nick.

Guiada pela prosa fascinante e afiada de Liza Klaussmann, eu segui em transe pelas vidas das duas primas, desde a juventude durante a II Guerra Mundial, até a maturidade na ilha de Martha’s Vineyard, onde fica a casa de veraneio da família – impossível não se apaixonar pela petulante Nick, cujo casamento feito por amor acaba caindo numa espécie de limbo por causa de um affair vivido pelo marido, o confiável e correto Hughes, quando ele ainda era um jovem oficial americano na Londres devastada pelos bombardeios alemães.

Desfiando verões, a senhorita Klaussmann envolve seus leitores numa trama instigante cujo cerne é um misterioso crime, descoberto por Daisy e Ed durante as férias na ilha – mas o encadeamento da história, os diálogos primorosos, o ritmo ágil e sardônico do texto, tudo, tudo me encantou. Lá pelo final do livro, a autora pesa a mão num dos seus ótimos personagens... Um defeito?


Eu diria que sim. Mas não compromete essa excelente e arguta narrativa em várias vozes. Fiquei tão afoita com o romance que, pelo meio da trama, estava com vontade de espiar as últimas páginas – mania de escritora que quer sempre ter o controle da história... Mas Liza Klaussmann, talentosa narradora, me levou pelo cabresto até o final.

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