20
de agosto de 2013 | N° 17528
PAULO
SANT’ANA
Os doces que sorvo
Foi
um inverno rigoroso este que ainda tem 30 dias para terminar.
Houve
neve, mas acima de tudo houve frio intenso.
Gozado
que não vi ninguém bebendo quentão. E também estranhei não ter apelado para o
meu casaco de pele que comprei certa vez em Nova York.
Mas
usei com afinco as minhas meias de lã compridas, também utilizei as ceroulas de
malha, só não apelei, como vejo tanta gente fazer, para as mantas em torno do
pescoço, isso nunca foi um hábito meu.
Apesar
do frio, não apelei para a gemada com leite quente, mas comi muitas pipocas,
principalmente nos jogos do Grêmio na Arena.
Não
gosto de pipocas doces, pelo contrário, além do sal que já vem nos sacos de
pipoca, acrescento ainda mais sal, aproveitando que entre minhas doenças não há
nenhuma que recomende menos sal.
E,
pela primeira vez nos últimos anos, comi muita canjica neste inverno. E comi
também muito milho verde, também com muito sal espalhado nas espigas.
Só não
tomei quentão. Não o achei ofertável nos lugares aonde fui.
E,
pela primeira vez em minha vida, comi muito sorvete neste inverno. Não sei se
foi o câncer que operei na minha rinofaringe que acabou me livrando das
faringites tradicionais que tinha anteriormente por comer sorvete.
Comi
sorvete com bastante açúcar e por vezes tomei sorvete dietético, que algumas
bancas dos shoppings oferecem à larga.
Por
sinal, foi saudada efusivamente pelos consumidores fanáticos de sorvetes a
instalação, poucos meses atrás, de uma banca de sorvetes da marca Freddo no
Shopping Iguatemi.
Essa
marca de sorvete não é fabricada no Brasil. Todas as remessas vêm de Buenos Aires
ou de Montevidéu.
O
sorvete de doce de leite da Freddo é proverbial, mas muito caro. O preço é bem
mais alto do que o dos sorvetes nacionais que se vendem nos shoppings, mas
sinto confessar que é bem melhor do que aqueles.
Sou
um incontinente consumidor de sorvetes. E tenho o olho maior que a barriga. Não
poucas vezes, como até um quilo de sorvetes, na maior parte não dietéticos, o
que vem a ser quase um suicídio que cometo contra meu diabetes. Não deve ser
aconselhável fazer o que faço, compensar a quantidade descomunal de açúcares
que ingiro com doses gigantescas de insulina.
Mas
o sorvete é mesmo uma tentação. E consumidor de sorvete como eu adora comer
sorvete no inverno. Aí é que quero ver quem tem cabelo no peito.
Na
compensação para essa ingestão irresponsável que faço de açúcares no sorvete,
no entanto, compro na Panvel o leite condensado marca Hué, totalmente dietético.
Faço dois furos na lata, um para entrar ar, tomo-a inteira e verifico que é dietético
mesmo, nem mexe na minha taxa de glicemia, que verifico a seguir.
Não
há nada mais delicioso na vida do que devorar uma lata inteira de leite
condensado. E, tomando o leite condensado dietético, sinto-me impune nessa vocação
telúrica que tenho desde criança para devorar açúcares: para amargo, já chega a
vida.
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