23
de agosto de 2013 | N° 17531
EDITORIAIS
ZH
SEM SAÍDA
Apesar
das negativas do governo federal de que seja iminente um reajuste dos preços
dos combustíveis o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, veio ontem a
público contestar a informação de que a presidente Dilma Rousseff tenha discutido
o assunto , trata-se de medida previsível diante do atual cenário
macroeconômico.
O
petróleo é uma commodity, assim como os grãos e os minérios, e tem seus preços
cotados nas bolsas internacionais. No caso do mercado petrolífero, porém, há
uma peculiaridade: o Oriente Médio, principal região produtora, caracteriza-se
há quase cem anos pela instabilidade política, que muitas vezes degenera em
guerras. Essa característica tende a provocar oscilações bruscas no preço do
barril, com impacto imediato sobre derivados, como gasolina e diesel. Apesar de
ter alcançado a autossuficiência na produção do óleo em 2006, o Brasil continua
importando o produto por não contar com capacidade de refino para atender à
demanda interna.
Como
empresa pública (com mais de 50% do capital nas mãos do Estado brasileiro), a
Petrobras atua em conformidade com a política de preços do governo. É por isso
que, desde o começo dos anos 2000, a empresa mantém os preços domésticos abaixo
dos internacionais a fim de não provocar impacto indesejado nos índices de
inflação.
A
direção da Petrobras já teria pedido formalmente ao governo o reajuste do preço
dos combustíveis, conforme o jornal O Estado de S. Paulo. No ano passado, a
presidente da estatal, Maria das Graças Foster, havia manifestado a necessidade
de um aumento de 15% nos preços. A disparada do dólar nos últimos dias tornou
praticamente inviável a manutenção do diferencial entre os preços domésticos e
internacionais no patamar atual.
Na
atual conjuntura, a companhia precisa gastar cada vez mais em moeda nacional
para adquirir no mercado externo a mesma quantidade de combustível. Não resta
dúvida de que o aumento terá efeito inflacionário, uma vez que será
inevitavelmente repassado aos preços.
Para
o Palácio do Planalto, porém, trata-se agora de optar entre a pressão sobre os
índices de inflação provocada pelo aumento e o comprometimento da capacidade de
investimento da Petrobras, que já tem problemas graves de caixa e pode até
mesmo ter sua nota rebaixada pelas agências de classificação de risco, perdendo
o grau de investimento. Uma turbulência desta dimensão nas contas da empresa
seria fatal para a credibilidade do país no Exterior.
É
compreensível que o governo tema riscos eleitorais por conta do efeito cascata
do aumento dos combustíveis. Inflação em alta compromete, em tese, as
perspectivas de reeleição da presidente. Espera-se que o governo coloque os
interesses do país à frente de seus próprios cálculos eleitorais e tente
compensar os efeitos de um eventual reajuste com uma compressão de seus gastos.
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