27 de agosto de 2013 | N° 17535
FABRÍCIO CARPINEJAR
O lado do
sol da calçada
Sem esperança, não há generosidade. Sem esperança, ninguém
rende no trabalho. Sem esperança, ninguém será receptivo no relacionamento.
Sem esperança, ninguém entenderá um amigo. Esperança é
garantir que tudo pode ser feito com calma, que não é preciso acertar sempre.
Esperança é espontaneidade. Esperança é leveza que se faz
densidade. Esperança é não pressionar. Esperança é se doar sem medo de acabar.
A generosidade vem da esperança, eu garanto.
Quem não tem esperança será avarento, poupará sua energia,
entrará em estado de sítio, economia de guerra, fará estoque de alegria no
porão dos nervos. Não poderá oferecer ao outro o que faltará para si. Começará
a acender velas devido à luz cortada de seus olhos, passará a resmungar devido
à voz falhada de sua boca.
O desesperançado deixa de fazer convites, restringe os
favores, recusa sair, sonega a casa a visitas. Ele é uma ostra que se torna
marisco – não tem brilho de pérola para chamar o mar.
A esperança é tempo de ser, véspera, ensaio. Não se luta
pela esperança. Mas, sem esperança, não se luta por nada.
A amargura decorre justamente da ausência de perspectiva.
Alguém ameaçado de perder seu emprego será egoísta. Alguém separado será
apocalíptico.
Alguém falido não dará bom-dia muito menos boa-noite.
Alguém isolado não pensará em ajudar uma velhinha a
atravessar a rua ou a carregar suas sacolas de mercado. A esperança é educação.
A esperança é tranquilidade. A esperança é liberdade.
A esperança é perceber que, por pior que seja aquele dia,
haverá outro totalmente inesperado. A esperança é crédito. O crédito é
realidade recuperando os atos. Acaba a esperança, explode a raiva. Acaba a
esperança, reina o ressentimento.
A esperança destrói a onipotência, o controle dos fatos. Com
esperança, as páginas estarão abertas para a escrita, não escreveremos bilhetes
de adeus, não encerraremos o expediente com a morte e o fim.
Um naco de esperança e já somos felizes. Um pouquinho de
esperança e já nos recuperamos. Um bocado de esperança e já levantamos o rosto
para capturar o vento.
A esperança é confiar em que nada é definitivo, nada é
absoluto, nada é perfeito.
Todo homem e toda mulher são generosos quando banhados de
esperança. Pretendem mudar, atendem pedidos inconcebíveis, estarão flexíveis e
dispostos, autocríticos e atentos. Sem esperança, ficam hostis e intratáveis,
bichos com raiva, animais encurralados.
A vida é fácil com esperança. Não tem porta fechada. É
possível sair e entrar no mesmo erro. Não existe julgamento e sentença, apenas
a vontade de seguir em frente e procurar o lado do sol da calçada.
Sem esperança, não há nem mesmo o perdão.
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