24 de agosto de 2013 | N° 17532
LIVROS
A
disputa que abalou o Império
O recém-lançado “1889” aponta viúva gaúcha como pivô de uma
rivalidade que teria colaborado para o Marechal Deodoro proclamar a República
Pouco citada nos livros de História, uma bela gaúcha teria
contribuído de forma involuntária para a queda da monarquia e a proclamação da
República no Brasil.
O recém-lançado livro 1889, de Laurentino Gomes, relata como
uma disputa entre o Marechal Deodoro da Fonseca e um senador da província pela
afeição da elegante viúva teria dado início a uma inimizade que precipitaria,
nos bastidores do Império, o fim do regime já abalado por razões como o fim da
escravidão, atritos entre governo e Exército e a frágil saúde de Dom Pedro II.
Quando servia ao Exército na província gaúcha, muito antes
de instituir o novo regime, Deodoro teria proclamado sua afeição a uma moradora
de Rio Pardo conhecida como baronesa do Triunfo. Ela não era baronesa de fato,
mas filha do Barão de Triunfo, o general Andrade Neves. Se lhe faltava o título
nobiliárquico, sobravam encantos. Diz-se que Maria Adelaide de Andrade Neves
Meireles era uma quarentona tão bonita que, se já existissem automóveis no
Brasil àquela época, seria capaz de parar o trânsito.
O charme de Maria Adelaide teria deflagrado uma disputa
romântica entre Deodoro e o senador liberal gaúcho Gaspar Silveira Martins a
partir de 1883, conforme a obra de Laurentino, quando o primeiro assumiu o
posto de comandante das armas da província. Galanteador, Martins levou a melhor
– ele contou com os cuidados da baronesa depois de ter quebrado a perna.
Teria sido esse o início de uma profunda inimizade entre
Deodoro e Silveira Martins, que seria decisiva para convencer o relutante
marechal a instituir a República em 1889. O militar, monarquista e admirador de
Dom Pedro II, só resolveu sepultar de vez o regime após ser informado de que
seu antigo desafeto seria nomeado chefe do ministério imperial. Mesmo
adoentado, levantou da cama e foi mudar o curso da história.
– A baronesa do Triunfo poderia ser definida como uma
madrinha involuntária e anônima da República brasileira – resume Laurentino
Gomes.
A escaramuça romântica entre o marechal e o senador já foi
abordada em outros livros, como 1889: A República não Esperou o Amanhecer, de
Hélio Silva, mas a figura da baronesa permanece pouco conhecida. Tanto que
Laurentino Gomes só foi descobrir o nome completo dela depois de sua obra estar
pronta.
Foi informado via e-mail pelo coronel do Exército e
pesquisador gaúcho Luiz Ernani Caminha Giorgis, depois que o coronel leu uma
nota de jornal sobre o livro. Em parceria com o presidente da Federação das
Academias de História Militar Terrestre do Brasil, coronel Claudio Moreira
Bento, Caminha escreveu a obra Escolas Militares de Rio Pardo, em que Maria
Adelaide é citada como aliada política de Gaspar Martins – mas nada além disso.
Bento contesta a intepretação, perpetuada pela tradição oral, de que ambos
teriam tido um caso.
– Não há comprovação documental. Ela era uma admiradora
política do Gaspar, distinta e religiosa. Deodoro era adversário de Gaspar
Martins porque o senador falava mal dos militares – sustenta o coronel Claudio
Bento.
Para Laurentino, a despeito de qual fosse o grau de
intimidade entre a viúva e o senador, foi suficiente para insuflar o conflito
entre o político gaúcho e o militar alagoano e selar o destino do país. O fato
é que a morte de Gaspar Martins no Uruguai, em 1901, levou a viúva gaúcha que
abalou o Império a realizar uma pomposa cerimônia fúnebre, em Rio Pardo, em sua
homenagem.
marcelo.gonzatto@zerohora.combr
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