sábado, 31 de agosto de 2013

RUTH DE AQUINO
28/08/2013 13h12 - Atualizado em 28/08/2013 14h26

Ser ou não ser Patriota: eis a “não-questão” na lambança do eixo Dilma-Morales

O confinamento numa sala de 20 metros quadrados sem direito a nada por 452 dias não é DOI-Codi mas é "DÓI-Tudo". Está longe de ser o céu.

452 dias numa sala de 20 metros quadrados da embaixada brasileira em La Paz. Repetindo: 452 dias. É muito. Pode não ser o DOI-Codi mas é o DÓI-Tudo, mente insana corpo insano. Se a presidente Dilma disse, com conhecimento de causa, que o DOI-Codi é tão distante das condições em que estava confinado nosso asilado boliviano Roger Pinto Molina “como é distante o céu do inferno”...então isso significa que o senador “procurado” pelo governo muy amigo de Evo Morales estava no “céu” todo esse tempo.

Era um céu pequenininho, sem direito de ir e vir nem de receber visitas. Molina estava confinado no céu desde que pediu proteção ao Brasil, alegando risco de morte após denunciar o envolvimento de integrantes do governo Evo Morales com o narcotráfico.

Será que por isso Molina entrou em depressão e queria se suicidar? O céu não é suficiente para um dissidente de Morales a quem o Brasil de Dilma Rousseff concedeu asilo por não considerá-lo um criminoso comum e sim um perseguido político? O que Molina quer? Inferno? Muita ingratidão do senador, separado de sua família no Acre por apenas 452 dias, à espera de uma intervenção divina – que surgiu na pessoa do ministro Eduardo Saboia. Ele era o encarregado de negócios substituindo o embaixador brasileiro Marcelo Biato, afastado por exigência do governo boliviano.

Dilma revoltou-se com razão com a lambança que passou por baixo de suas pernas. A presidente disse que fazia questão de “proteger a vida” do boliviano. Saboia achou que a intenção de Dilma não era suficiente e que o governo brasileiro era insensível às normas de bons tratos a asilados. E levou Molina para Corumbá. Uma “fuga espetacular” sem que ninguém soubesse! Bond, mi nombre es James Bond.

O governo de Evo Morales está fulo da vida. Morales é o mesmo que desapropriou refinarias da Petrobras e que mandou revistar com cães farejadores o avião da FAB em que o ministro da Defesa, Celso Amorim, retornava de Santa Cruz de la Sierra. O líder indígena Morales (ou “indígena” é politicamente incorreto?) já tinha deixado claro, por meio de suas autoridades, que o senador Molina “podia apodrecer na cadeia”. São palavras do pai do diplomata Eduardo Saboia, o embaixador aposentado Gilberto Vergne Saboia, que se diz orgulhoso da ação do filho, “legítima e legal”.

O governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, já meteu sua colher nessa sopa indigesta do Itamaraty: “Salvamos uma vida e cumprimos uma tradição que é própria do povo latino e do brasileiro, que é de abrigar. Essa é uma causa humanitária”. E a presidente Dilma com mais essa agora?

O chanceler Antonio Patriota foi defenestrado por causa do imbroglio, no exílio dourado de Nova York. Esse é o verdadeiro salvo-conduto de que todos precisamos quando falhamos, não? Foi ruim mas foi bom.
Caracas!!! Existe ou não a Convenção determinando que, se um país concede asilo diplomático, o outro hermano dá o salvo-conduto? Amigos amigos, asilados à parte para Evo Morales. Dançou o nosso chanceler.

Mas muita gente boa no Itamaraty está se pintando com maquiagem de guerra porque vem chumbo grosso por aí. Conversei em off com um embaixador. Tudo precisa ser em off agora. Disse ele:

“Até agora parece-me difícil que o Saboia tenha saído com o senador sem que ninguém percebesse - e que os fuzileiros navais não tivessem comentado nada com os adidos militares e que o carro tenha passado na fronteira com o grupo e sem problemas. Está todo mundo focado na demissão do Patriota mas ninguém insiste nestas perguntas. Por que será que não? Só sei que, na rede, os diplomatas apoiam o Saboia e já existe página no Facebook se solidarizando com ele”.


Aliás, o Celso Amorim vai ser demitido porque os subalternos cometeram ato de indisciplina? Perguntar não ofende. Ou será que ofende? Eis a questão.

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