12
de agosto de 2013 | N° 17520
LUIZ
ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Sinval Medina
Lançado
o livro, surge a resenha. A resenha deve ser ato imediato, dado que o leitor
precisa ser informado de que trata o livro, bem como de suas virtudes e
eventuais defeitos. Nada contra esse imediatismo, ao contrário. Mas sempre há
aqueles leitores/resenhistas que esperam a passagem do tempo para que o livro
se consolide internamente, para que os capítulos se harmonizem e as palavras
façam um acordo entre si. Ora bem, isso pretende justificar que apenas agora
venhamos a falar sobre um livro lançado em 2012.
O
livro é O Cavaleiro da Terra de Ninguém (Editora Prumo), do gaúcho Sinval
Medina, escritor com obra consagrada e premiada. Esse romance trata de uma
personalidade sempre envolta em mistério em nossa história, o tropeiro
Cristóvão Pereira de Abreu.
Trata-se
de um verdadeiro mistério esse homem, porque ele é tão citado quanto
desconhecido. Sabemos que ele existiu, que teve um papel relevante na formação
histórica do Sul do Brasil, mas, quando apuramos a lupa sobe sua pessoa, ele
desaparece.
Cristóvão
se assemelha a um Cid Campeador ou a um Amadis de Gaula: vultosos, mas
inacessíveis. Ele aparece aqui e ali, e quando esquecemos dele, ele ressurge,
em outra geografia e em outro tempo histórico. Talvez aí esteja seu fascínio, e
certamente foi isso que levou Sinval Medina a escrever sobe ele. O subtítulo do
romance, Vida e tempos de Cristóvão Pereira de Abreu, é bem esclarecedor: não é
uma biografia tout court, mas também o retrato de uma época. E de que época
estamos falando?
O
leitor experiente logo saberá que é a primeira metade do século 18. Mas
atenção: para nós, na América Latina, a primeira metade do século 18 está
muito, muito longe, quase na Idade da Pedra. É nesse contexto particular de
gênese que se dá a história contada por Sinval Medina. A precariedade dos
elementos de pesquisa é um óbice, mas é, também, uma bênção, pois permite ao
escritor os longos voos da imaginação, que estariam perdidos caso a pesquisa
sufocasse a arte.
Numa
linguagem saborosa, repleta de arcaísmos intencionais, Sinval nos conduz pelas
aventuras do ilustre desbravador, mostrando aquilo que somente a ficção é
capaz: o seu lado humano. E isso está em cheio nesse belo e inesquecível
romance. Leiam-no, e saberão como se escreve – e como se lê – alta literatura.
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