05
de fevereiro de 2013 | N° 17334
ARTIGOS
- Guilherme Socias Villela*
O silêncio dos
soldados
É notório
que os poderes do Estado brasileiro, em toda a sua existência, têm revelado
notáveis conflitos políticos. Ocorre que suas instituições tradicionais têm
mostrado incapacidade de superar crises políticas nacionais – inclusive, e
principalmente, nas crises germinadas em ideologias que geram devaneios ou
paixões e emoções – indissociáveis da condição humana.
Nos
cerca de 70 anos da monarquia brasileira, esses conflitos políticos foram, de
alguma forma, amenizados por certo poder moderador – exercido pela autoridade
moral do seu último imperador. Todavia, no período republicano brasileiro, é
reconhecido que esse poder moderador, nas crises políticas nacionais, tem sido
exercido pelas Forças Armadas – convocadas nos momentos, anteriores ou
posteriores, ao que poderiam ser denominados “sistólicos” da vida política
brasileira.
Golpe.
Contragolpe. Revolução. Dê-se-lhe o nome que se queira dar ao movimento
político, econômico, psicossocial e militar brasileiro de 1964 – ocorrido num
mundo em que predominava a Guerra Fria. Rigorosamente, do ponto de vista
histórico, esse movimento ainda está para ser interpretado.
(Historiadores
franceses clássicos recomendavam que não se fizesse história depois da era
napoleônica – segundo eles, para que não se perdesse a “perspectiva histórica”.
A propósito, ultimamente, no Rio Grande do Sul, quase dois séculos depois, a
própria história da Revolução Farroupilha vem sendo revisada.)
Uma
das consequências do movimento de 1964 ainda hoje pode ser observada: o
prestígio das Forças Armadas nacionais está danificado. É como se a nação
houvesse olvidado sua participação na independência brasileira; na Guerra do
Prata; na Guerra do Paraguai; na atuação da Força Expedicionária Brasileira na
II Guerra Mundial; no desempenho militar da Marinha de Guerra – a mais antiga
das armas nacionais; além da defesa aeroespacial do território nacional –
exercida pela Força Aérea Brasileira.
E,
não menos importante, a participação das Forças Armadas nos programas de saúde
e educação realizados nos mais recônditos e desprovidos lugares do território
nacional; na sua presença em missões de paz em alguns países latino-americanos;
e, ainda, na construção de obras de infraestrutura do país – especialmente
rodovias, pontes e ferrovias.
(Recentemente,
na reforma do aeroporto de Guarulhos, Cumbica, feita pelo Exército Nacional, as
obras foram entregues antes do prazo estipulado no projeto, além de serem
devolvidos R$ 150 milhões ao Tesouro Nacional – o que, em matéria de obras
públicas, é algo incomum!)
Hoje,
infelizmente, a sociedade brasileira assiste, emudecida, à corrupção, aos
escândalos, às distorções de conduta, aos subornos, à falsidade e à falta de
compostura política – e tudo que faz sentir os primeiros “perfumes” da
gradativa putrefação de uma sociedade doente.
A
propósito, é indispensável lembrar que o militar brasileiro, ao revés – no
poder ou fora dele –, sempre tem conduta exemplar. Sua formação, da escola à
caserna, está norteada para a devoção à pátria; para a integridade e para a
honestidade pessoais; para a ética; para a hierarquia; para a ordem; e por
valores éticos orientadores do seu comportamento moral, pelo resto da vida –
motivo pelo qual, hoje, não tendo sido convocado, pode ser entendido o seu
silêncio.
*ECONOMISTA,
EX-PROFESSOR UNIVERSITÁRIO
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