quinta-feira, 2 de agosto de 2012


ELIANE CANTANHÊDE

O cara

BRASÍLIA - O julgamento histórico do mensalão, que começa hoje no Supremo, vai destrinchar toda uma rede de coleta e redistribuição de dinheiro e expor 38 réus, mas o foco estará sobretudo num personagem: José Dirceu, o cérebro da grande guinada do PT rumo ao poder e agora carimbado pela Procuradoria-Geral da República como "chefe da organização criminosa".

Dirceu é o grande personagem do julgamento, por vários motivos. Não só pelo seu papel decisivo no comando do PT e pelo cargo estratégico que ocupava no início do governo Lula -a Casa Civil- mas também pela trajetória política, desde o jovem bonito com jeitão caipira que presidia a UNE e seduzia as moças até a espetacular volta de Cuba com novo rosto, nova identidade e nova vida, capaz de conviver anos com uma mulher sem lhe contar sua própria história.

Espera-se que o Supremo aja com a grandeza de uma suprema corte e decida com base nos autos, nas provas e nas circunstâncias políticas, e não caberia aqui ensinar pateticamente aos 11 (ou dez) ministros como julgar. Avaliando exclusivamente do ponto de vista político, ou de impacto na opinião pública, a condenação de Dirceu será, ou seria, como a cassação de Demóstenes Torres.

A cassação de Demóstenes foi como um alívio para o Senado e interpretada como o fim da CPI do Cachoeira. A condenação de Dirceu anteciparia o fim do julgamento. Tiraria toneladas dos ombros dos ministros, de advogados e dos demais réus. Talvez menos dos políticos mais visados, mas certamente de secretárias e outros menos cotados.

Se o julgamento começar pelos "bagrinhos" -se é que existe "bagrinho" nesse oceano-, todo o processo, todas as provas, todas as contestações terão um ritmo de tensão crescente. Se começar por Dirceu -o peixe graúdo-, será como uma novela que começa pelo fim.

PS - Marta Suplicy gravou participação pró-Haddad para a TV.

elianec@uol.com.br

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