ELIANE
CANTANHÊDE
O cara
BRASÍLIA
- O julgamento histórico do mensalão, que começa hoje no Supremo, vai
destrinchar toda uma rede de coleta e redistribuição de dinheiro e expor 38 réus,
mas o foco estará sobretudo num personagem: José Dirceu, o cérebro da grande
guinada do PT rumo ao poder e agora carimbado pela Procuradoria-Geral da República
como "chefe da organização criminosa".
Dirceu
é o grande personagem do julgamento, por vários motivos. Não só pelo seu papel
decisivo no comando do PT e pelo cargo estratégico que ocupava no início do
governo Lula -a Casa Civil- mas também pela trajetória política, desde o jovem
bonito com jeitão caipira que presidia a UNE e seduzia as moças até a
espetacular volta de Cuba com novo rosto, nova identidade e nova vida, capaz de
conviver anos com uma mulher sem lhe contar sua própria história.
Espera-se
que o Supremo aja com a grandeza de uma suprema corte e decida com base nos
autos, nas provas e nas circunstâncias políticas, e não caberia aqui ensinar
pateticamente aos 11 (ou dez) ministros como julgar. Avaliando exclusivamente
do ponto de vista político, ou de impacto na opinião pública, a condenação de
Dirceu será, ou seria, como a cassação de Demóstenes Torres.
A
cassação de Demóstenes foi como um alívio para o Senado e interpretada como o fim
da CPI do Cachoeira. A condenação de Dirceu anteciparia o fim do julgamento. Tiraria
toneladas dos ombros dos ministros, de advogados e dos demais réus. Talvez
menos dos políticos mais visados, mas certamente de secretárias e outros menos
cotados.
Se o
julgamento começar pelos "bagrinhos" -se é que existe "bagrinho"
nesse oceano-, todo o processo, todas as provas, todas as contestações terão um
ritmo de tensão crescente. Se começar por Dirceu -o peixe graúdo-, será como
uma novela que começa pelo fim.
PS -
Marta Suplicy gravou participação pró-Haddad para a TV.
elianec@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário