27
de agosto de 2012 | N° 17174
LUIZ
ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Contos de Solidão e Silêncio
Guilherme
Cassel inaugura-se na literatura com Contos de Solidão e Silêncio (Editora
Bestiário), um livro “pronto”, para o qual não é preciso ter a condescendência
habitual para com os novatos.
O
silêncio do título, aqui, pode ser entendido de duas formas: tanto é o silêncio
das personagens (que abdicam de falar) quanto o silêncio como veladura das
intenções narrativas – quanto a esse aspecto, Guilherme Cassel é mestre em
ocultar-nos a essência do que deseja dizer, apostando no subtexto à Hemingway. As
“pistas” que o autor deixa aqui e ali são capazes de montar o seu arcabouço de
intenções.
Não
se pense, porém, que os contos demandem um leitor privilegiado em cultura e
capacidade intuitiva. Qualquer leitor poderá entendê-los, e isso é uma
verdadeira proeza literária. Mais uma vez lembramos o sentido da medida,
revelador da consumada capacidade técnica do autor: nem o texto pode ser
escancarado, nem pode ser críptico. O primeiro gera o tédio; o segundo, a
perplexidade e a sensação do logro.
O
silêncio das personagens decorre de algo íntimo – como o silêncio da viúva de
Ruínas –, mas igualmente de um sentimento coletivo e atávico: “Quem vive no
Sul, quando envelhece, naufraga em silêncios. Aos poucos, vamos aprendendo a
desconfiar das palavras, a evitar a ilusão do entendimento. É quando a memória
se apodera da vida e nos inunda com seus cheiros, texturas e fantasmas; quando,
enfim, compreendemos que ficamos sós”. Eis aí, na abertura do conto Sul – em
alusão a Borges – um dos tantos exemplos dos silêncios e das solidões do livro.
As
personagens de Guilherme Cassel vagam sempre numa iminência, simbolizada pelo
evento que não acontece, aquele evento transcendental que irá tirá-las do
abandono, da culpa. Isso acontece com o protagonista-narrador do excepcional Feliz
Aniversário, um assaltante para quem o fruto do crime é para revigorar um
afeto, o único que o prende à vida e é capaz de justificar suas ações – mas se
trata de uma felicidade efêmera, que amanhã será substituída, mais uma vez,
pela dureza do real.
Da
leitura de Contos de Solidão e Silêncio ficam algumas conclusões. A primeira,
insofismável, é: a literatura brasileira ganha um novo e excelente autor; a
segunda é que é possível, recolhendo elementos do dia a dia, transformá-los em
motivo de discussão sobre este ente tão complexo, contraditório e, por fim,
extraordinário, que é o ser humano.
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