segunda-feira, 20 de agosto de 2012



20 de agosto de 2012 | N° 17167
L. F. VERISSIMO

Tonia

Quem entrasse na sala da nossa casa naquele momento não acreditaria no que via. Ali estava a Tonia Carrero, atriz de cinema, teatro e TV, uma das mulheres mais admiradas do Brasil pelo talento e a beleza, de quatro sobre o tapete demonstrando um exercício para a coluna que recomendava a todos.

Nada representava melhor o que era a Tonia do que aquela cena: sua informalidade, seu cuidado com o próprio corpo e sua preocupação com os amigos – mesmo que nenhum amigo sequer tentasse imitar sua ginástica.

A Tonia nunca deixava de nos visitar quando passava por Porto Alegre. Às vezes, se hospedava conosco, e sua chegada era sempre uma festa. No mesmo dia em que ficara de quatro para nos animar a fazer exercícios, ela passara um bom tempo dando uma aula de maquiagem à cozinheira.

Talvez nenhuma outra grande atriz brasileira tenha se destacado como Tonia tanto pela beleza quanto pelo currículo artístico. A beleza de Tonia era fulgurante e a sua longa carreira teatral incluiu comédias antológicas e clássicos e dramas importantes que ela abrilhantou com sua versatilidade e aquela voz inesquecível. Decididamente, não é apenas um rosto bonito.

Tonia Carrero, a Mariinha como a chamam os amigos, está fazendo 90 anos hoje. Olha aí, Mariinha: o meu abraço inclui os de todo o mundo aqui em casa. Inclusive dos que já se foram.

Enfado

“Enfadonho” é uma grande palavra. Nada descreve melhor uma coisa assim, assim...Enfim, enfadonha – do que a palavra “enfadonha”. Se você disser que alguém é enfadonho está descrevendo-o com exatidão. Enfadonho não é exatamente chato, tedioso, cansativo. Enfadonho é enfadonho, a palavra está dizendo.

Por exemplo: o enorme voto do relator no julgamento do mensalão foi enfadonho – e ominoso, outra boa palavra. Pelo seu tamanho, o voto do relator já estava pronto e as defesas não fizeram a menor diferença no seu conteúdo.

O voto dos outros ministros não será tão grande, mas presumivelmente já estavam prontos antes das defesas. Os advogados de defesa não só disseram o óbvio – ninguém sabia de nada, o dinheiro era para caixas 2 etc. – como falaram em vão. A não ser que dê alguma briga de soco entre os ministros – Data vênia: paft! – será tudo muito enfadonho até o final.

Nenhum comentário: